Fechei os olhos, esperando que o ônibus me atropelasse, mas tive a sensação de estar caindo e a dor não apareceu, só quando minha bunda se chocou em algo duro.
Abri os olhos e constatei que estava no esgoto subterrâneo da cidade, e que, por pouco, não caí no mar de bostas... literalmente, pois conseguia ver algumas flutuando. Não havia explicação. Como tinha me teletransportado de lá de cima para aqui embaixo? Deveria estar drogada, e eles deveriam estar atrás da droga que estava em meu sistema. Encostei-me, engatinhando um pouco, nas paredes do túnel subterrâneo e me permiti chorar. A adrenalina baixou e o medo emergiu com força, como um caminhão desgovernado, me arrancando soluços.
Depois de me dar um tempo para chorar e extravasar, me obriguei a continuar andando. Eles me encontrariam se eu ficasse parada onde estava. Ainda um tanto abalada, não percebi quando, distraída olhando para o rato nadando na água do esgoto, aquela sensação de frio na barriga apareceu novamente. Assim que olhei para frente, não encontrei nada de estranho, apenas um grande túnel parcialmente escuro, pois algumas frestas de luz que passavam pelos bueiros iluminavam o local. Todavia, quando olhei para trás, tinha um enorme pilar de sustentação que ocupava todo o espaço do túnel. Fiquei um tempo em silêncio, apenas tentando descobrir como... atravessei a parede.
Olhei para as minhas mãos e, um tanto apreensiva, as coloquei na pilastra, mas nada aconteceu, parecia sólido. Fiquei em silêncio, apenas respirando e deixando as lágrimas descerem pelo meu rosto. Meu coração disparou, fazendo com que, com a minha audição melhorada recém adquirida, eu me concentrasse na contagem dos batimentos. Quando menos esperava, perdi a estabilidade, caindo de quatro, pois atravessei a parede. Coloquei as mãos no chão e olhei para trás. Metade do meu corpo estava de um lado da pilastra, a outra metade tinha ficado para trás. Balancei as pernas e as senti normalmente. Logo me levantei normalmente e virei de frente para aquele obstáculo, ignorando o fato de ter trazido o restante do meu corpo para esse lado. Depois de algumas respirações profundas, fechei os olhos e comecei a caminhar para frente. A sensação de frio na barriga voltou a aparecer, não me chocando quando já estava, mais uma vez, do outro lado.
— Temos algumas opções, Alice — comecei a falar comigo mesma para colocar os pensamentos em ordem, visto que conseguia pensar melhor quando falava em voz alta. — A primeira opção é: você está sonhando, mas duvido muito que seja essa; a segunda: você está em uma realidade paralela... o que até faz algum sentido; a terceira é que você está drogada.
Sentei-me, apoiando as costas na pilastra.
— E aqueles homens querem o que você tem. Seja lá o que for...
Não sabia o que tinha feito para, em um minuto, ter uma vida perfeitamente organizada, com um noivo que, aparentemente, me amava muito, um emprego estável, uma casa com um gramado de um bom tamanho para quando voltássemos do nosso casamento no México, adotássemos um cachorrinho, pois não poderia engravidar, e no outro, estar sendo perseguida por traficantes de drogas poderosas.
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Os Escolhidos de Raziel
FanfictionQuando a chama da fé nos anjos pareceu curvar-se perante a escuridão, Ele soube que precisaria ir atrás dos escolhidos. Thiego, Beatriz, Alice e Lorenzo estavam em quatro cantos do mundo, espalhados para que suas chances de serem descobertos fossem...