Prólogo

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CLARISSA ARANTES

Sair do Brasil foi a parte fácil, viver por dias em Nova Iorque com um inglês enferrujado e apenas dez dólares no bolso, nem tanto.

Eu fui embora de São Paulo sem qualquer apoio financeiro, não é como se minha mãe realmente conseguisse me ajudar e bom, também não é como se eu tivesse um pai presente.

Eu finalizei o ensino médio no ano passado e com muita dedicação passei em duas universidades perto de casa, mas não era o que eu queria, nunca foi. Eu criei minha irmã mais nova enquanto minha mãe trabalhava, ela chegava muito tarde e antes mesmo de ser filha me tornei mãe, porém não era minha responsabilidade e eu fiz o que podia enquanto estava lá. E agora que a Sofia tem idade suficiente para se cuidar, eu fui embora.

Pode até ser egoísmo, deixar minha mãe e irmã para trás, mas eu nunca pensei em mim. Primeiro, comecei a trabalhar cedo demais para sustentar uma criança que não era minha, já que minha mãe não conseguia sustentar a casa e a Sofia, Depois, comecei mudar todos os meus planos para que Sofia me tivesse por perto já que nossa mãe nunca esteve e nem sequer conhecemos seu pai. Então, pelo menos uma vez na vida, fiz o que eu queria e durante um ano juntei dinheiro suficiente para uma única passagem de ida para Nova Iorque.

Mas não julgo Sarah, minha mãe, na verdade eu até entendo. Ela não trabalhava até tarde porquê não queria cuidar de suas filhas, pelo contrário, ela fazia isso porquê precisava, porquê era o único jeito, assim como ajudei como pude, porquê era o único jeito de continuarmos tendo uma casa e comida. Nos últimos meses tudo melhorou, minha mãe conseguiu um aumento significativo e é o suficiente para Sarah e Sofia.

E aqui estou eu; sem casa, emprego e apenas dez dólares. Mas vendo pelo lado bom... Pelo menos estou fodida em Nova Iorque e não em um bairro pobre e desvalorizado de São Paulo.

De qualquer forma, a desesperança e saudade preenche meu peito, estou a três dias em Nova Iorque e tudo o que me sobrou foi os malditos dez dólares e uma mala cheia de roupas. Então, sem dinheiro para mais uma noite em um motel barato, arrasto minha mala de rodinhas até o bar mais próximo, não o mais barato, mas ainda sim o único que consigo chegar apé e sem qualquer dinheiro extra para o táxi, entro no bar chique decidida a tomar pelo menos uma dose.

Obviamente não estou vestida adequadamente, isso faz muitos olhares se direcionarem a mim, sequer consigo me importar. Caminho até o balcão com minha calça jeans surrada, meu moletom da banda Nirvana e meu ALL star vermelho de cano alto, minha mala com rodas sequer faz barulho no chão luminoso.

Até o maldito chão zomba de mim, mostrando o como ele é mais caro do que qualquer coisa que tenho. Meu pensamento só me faz ficar mais aborrecida, triste e um passo mais perto de um choro histérico.

- O que quer beber, senhorita? - O barman pergunta assim que me sento, seu olhar é de pena, o que me diz que minha cara não é a das melhores.

- Gostaria de ver o cardápio antes. - Minha voz saiu baixa, ele concordou com a cabeça a pós a minha frente o cardápio que ele já segurava.

O barman sabia que eu pediria um cardápio, eu não me encaixava alí e sequer eu conseguiria pronunciar os nomes das bebidas. Mas o que me deixou ainda mais tristonha que antes, foi o preço dos malditos drinks.

Sério, cento e vinte dólares por uma taça?

- Qual a bebida mais barata? - Eu me debrucei no balcão, sem conseguir me importar com as pessoas ao meu redor - Eu só quero ficar bêbada sem precisar vender meu corpo - Minha voz saiu abafada por meu rosto estar no meio de meus braços, minha bochecha colada a pedra escura e fria do balcão.

Dois bebês e quatro amigosOnde histórias criam vida. Descubra agora