Capítulo 18

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A nova escola era sofisticada e evoluída, o piso de madeira polida reluzia com a luz natural que adentrava-se por todas as grandes janelas do edifício. Os melhores professores estavam lá, os filhos de políticos, os futuros empresários, filhos de famosos e herdeiros de todos os lados do mundo. 

Tyler e Clarissa sempre priorizaram o estudo de seus filhos, os colocando em escolas boas e renomadas, mas desde que seu filho Hades sofrera bullying na escola do qual estava a mais de três anos, sentiam que as coisas precisavam mudar. A melhor escola do país ficava a 40 minutos de sua casa, era bem mais longe do que estavam acostumados, mas contente o suficiente que seu filho dotado teria mais oportunidade de evolução e uma taxa de bullying visivelmente menor, era o suficiente. Inicialmente seria uma mudança apenas para Hades, os pais tinham receio que a filha não quisesse deixar as colegas ou o grupo de teatro que tanto gostava, com apenas uma conversa tudo foi decidido, Violet iria mudar de escola, teatro amplo e com orçamento avançado, aulas de programação e natação á esperavam.

O primeiro dia foi apenas uma apresentação; prova de uniforme, foto para a documentação, uma breve reunião entre os adultos enquanto os gêmeos assistiam as atividades extracurriculares que tinham vontade de fazer. Clarissa e Tyler sorriam satisfeitos ao entrarem no carro e um flash branco os fotografavam vez ou outra, na próxima manhã a capa dos jornais locais seriam  família Arantes William.

— E então, o que acharam? – Tyler perguntava casualmente, rindo ao ouvir os gêmeos falarem animados, suas falas eram rápidas se misturavam, mal dando para entende-los. 

Eles amaram a escola.

Mais tarde naquele mesmo dia, Violet atravessou seu banheiro, que dividia com o irmão, e abriu a porta para o quarto dele, deitou-se na cama encarando sua metade ler um livro sentado na cadeira pendurada ao teto. Ele abaixou o livro, ela sorriu, ele sorriu para ela.

— Gostou da escola? – Ela começava inserta, desviando o assunto que queria tanto falar, é claro que Hades percebeu.

Violet era a única pessoa em todo o mundo que Hades entendia, ela era fácil para ele decifrar. Sendo assim, interpretou rapidamente a emoção estampada em seu rosto, ela estava confusa e  envergonhada, ele só não entendi a razão por trás de suas bochechas vermelhas, ele sabia que nunca precisou mascarar sua objetividade, diferente de outras pessoas, a menina de cabelos escuros e olhos claros não se magoava com isso, ela agradecia a sinceridade que os rodeava sempre que uma conversa surgia.

— Vi, o que vem te perturbando? –  O garoto levantou-se e caminhou até a cama, sentado ao lado dela não podia encarar suas orbes azuis, a menina olhava fixamente para o teto.

— Na nova escola... – Ele não disse nada, sabia que se falasse a coragem de sua irmã sumiria, ela levou o tempo que achou necessário, seus dedos seguravam fortemente o tecido de moletom de sua própria calça. – Quando eu.. eu fui ver o treino de natação, mas era o horário dos alunos mais velhos, acho que do ensino médio. Enfim, – Um suspiro longo soou – Duas garotas, elas... Hades, eu juro que as vi... ela se beijaram. – A última frase foi um sussurro, Hades não entendeu todo o nervosismo da irmã.

— Elas devem ser lesbicas. – Ele pensava enquanto falava, negando com a cabeça – Não, não é certo afirmar, talvez bissexuais ou pansexuais. Não temos como saber. – Ele divagava.

— I-isso é certo? – Ela finalmente o olhou, seus olhos brilhavam em uma confusão pura e cruel.

— Não existe certo e errado, Violet. São pessoas. – Hades sentiu em seu peito a vontade de citar autores, explicar a cronologia da história e a construção contra a sexualidade homo afetiva, o pensamento cultural, econômico e religioso que circundava a sociedade sobre o tópico, mas então, limitou-se a duas frases, sua irmã não queria debater o assunto, ela queria entende-lo e ele não entendia porque seus olhos estavam sofrido.  

— Eu fiquei feliz em vê-las juntas, elas estavam muito alegres.

Seu irmão não soube o que falar, pela primeira vez desde o nascimento, ele não a entendeu.

— E-eu só... não vemos muito disso por aqui.

— Nossos pais nunca soltaram nada maldoso. – Hades disse por fim, achando que sua confusão fosse baseada em um pensamento errôneo sobre os pais.

Eles passaram longos minutos quietos, pensamentos incertos ainda rodavam na mente nova e imatura da pequena garota, mas ela se sentia relativamente mais calma.

— Acha que somos muito novos para pensar sobre relacionamentos e sexualidade?.

— Os estudos recentes apontam que crianças a partir de nove anos, começam a se interessar por assuntos sexuais, assim como relacionamento e sexualidade. – Hades a encarou firme, tentando saber se seu pensamento estava alinhado com o dela. – Mas, dando uma opinião pessoal, eu acho que somos novos sim, temos tempo para pensar sobre isso, não vamos nos apressar.

Sem saber, suas palavras se instalaram no coração da garota, trazendo conforto e segurança. Ela pulou em seu colo o abraçando e riu quando seu irmão disse "Você embaralhou minha cabeça, estou confuso."

Atravessando o corredor, em uma bela cozinha com cheiro de comida itáliana, Clarissa ria por ligação com sua mais nova amiga Melory. A mulher cacheada já havia contado sobre seu novo hobbie, a pintura em tinta óleo, mostrado sua casa pelo face time e agora escutava a brasileira contar como foi voltar ao trabalho.

— Andrew, eu sinto fome! – Clarissa disse, ainda sem desligar sua chamada, para o amigo que preparava a comida – Se depender do horário dele Mel, meus gêmeos desmaiaram.

— Falando nisso, preciso dar comida ao Jacob. Foi ótimo conversar com você, mesma hora amanhã? – Clarissa só pode sorrir com a proposta, acenando repetidas vezes com a cabeça. – Maravilha! Tchau, Andrew. – A mulher disse antes de desligar, tirando um sorriso do homem cozinhando.

Tyler adentrou a casa sendo acompanhado por Daner, eles riam e conversavam, ao chegar na cozinha, o pai beijou a testa de Clarissa, sendo empurrado pelo amigo ruivo que a abraçou por trás.

— E eu não ganho nem um "oi"? – Andrew reclamou de seu lugar a frente do fogão.

Risadas foram escutadas antes que os dois homens corressem até o terceiro, um abraço em grupo foi dado, beijos pelo rosto de Andrew foram distribuídos. Era engraçado o quão pequenos e infantis o trio de amigos pareciam naquele momento, Clarissa sorria contente e agradecida por onde sua vida havia a levado.

— Já entendi, podem me soltar! – O advogado gritou depois de um tempo.

— Não precisa ficar com ciúmes, fui seu bem antes de ser dela. – Daner brigou se afastando e voltando a abraçar a mulher presente.

— Vou ver meus filhos! – Tyler disse saindo da cozinha, lembrando-se de repente, encarou os amigos – Vou correr em Nova York no próximo mês.

— Corrida do papai! – Violet gritava enquanto saia do corredor, era com toda a certeza, a mais animada entre todos eles. 

Dois bebês e quatro amigosOnde histórias criam vida. Descubra agora