Tio Sérgio, irmão de minha mãe, era enxadeiro. Desde menino, labutou no cultivo. Hortando, catando esterco, colhendo, roçando pasto e cuidando de criação. Amanhava, tirando tarefa, na rocinha do vovô Antônio Sérgio. E fez da enxada e do trabalho bruto e pesado, seu sustento, ganho e meio de vida.
De risada fácil, forte, frouxa e prolongada, mangava de um tudo, inclusive dele mesmo. E nos contagiava a todos com suas gargalhadas. Nunca reclamou de um nada desse mundo. E jamais deixou de cantar e fazer coro com seus ídolos. Aos domingos e feriados, vivia fechado e amoitado no seu quarto em companhia do "Compadre Vieira". Aliás, fosse onde fosse, tio Sérgio carregava seu radinho de pilha. Um xodó feito de chiadeira e ronco, em ondas médias AM.
Era uma pessoa muito amorosa, muito simples, mas muito sistemática também. Gostava de carapiá afogado na banha de porco, de coloral no arroz e de toucinho no feijão.
Achava um destempero pôr fogo na mata. "Queimada é fornalha!", dizia ele. E acrescentava: "Cada árvore que cai é um braço de rio que se vai..."
Tio Sérgio, irmão de minha mãe, sempre trabalhou na lavoura, no cultivo e trato das plantas, desde menino pequeno. Quando descansou e se foi do roçado, semeou produção de saudade em nós.
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NARCISO CEGO
Короткий рассказNARCISO CEGO: NÃO HÁ ESPELHO QUE NOS TIRE DE NÓS MESMOS É um livro de contos miúdos, de prosa fiada e tecida na roça. Tem cheiro de mato, flor de laranjeira, capoeira e mata nativa. Tem gosto de pasto, arado de terra, vara de pesca, barro, lagoa, r...