NÃO, EU NÃO VOU CHORAR...

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"Hoje é dia de Santo Reis, anda meio esquecido, mas é o dia de Santo Reis..." Que eu me lembre, meu primo gostava muito de cantar essa música do Tim Maia. Aliás, na mocidade, passávamos boa parte dos finais de semana cantando e proseando. Mas Tiãozinho gostava mesmo era das canções do Evaldo Braga, entre elas: "sinto a cruz que carrego bastante pesada". Sabia quase todas as melodias de cor. E na mesma tonalidade e ritmo do autor. Cantava com muita elegância e emoção.

Era um romântico à moda antiga. Dado a buquês de flores e serenatas, regadas a "51" ou a "Velho Barreiro". Mas guardava no olhar um enorme vazio. A exemplo de seu ídolo, Tiãozinho "escondia seu pranto num sorriso". Desde menino, aprendeu a "engolir o choro". Que eu me lembre, nunca se queixou de um nada.

Outra paixão do Tiãozinho, além da música, era o futebol. Aliás, no campo e na vida, sempre jogou limpo. Entrava firme, afiançado e grave na bola, mas nunca na canela do adversário. Tiãozinho jamais deu de pico na redonda. Seus chutes eram bem colocados. Embora não revelasse, se orgulhava de ser o batedor oficial de pênaltis do "São Sebastião Futebol Clube", time de várzea da Água Limpa.

Que se tenha notícia, nunca errou uma penalidade máxima em jogos oficiais. "Pé pesado!", diziam. Batia forte e chapado no couro, sempre à direita do gol. Todos os goleiros sabiam disso, não era novidade. Difícil era pegar aquela "pancada" a onze metros das traves.

Saudade muita, meu irmãozinho. Rendo aqui minha homenagem a você e a toda nossa família. E, a exemplo do Evaldo Braga, eu não vou chorar.

Em criança, eu também aprendi a "engolir o choro".

NARCISO CEGOOnde histórias criam vida. Descubra agora