Dias como os de hoje, chuvoso, frio e cinzento, lembram minha primeira infância. Quando meu pai, cuidava de todos nós, inclusive de minha mãe.
Engolidos pelo orvalho, assentávamos todos à beira do fogão à lenha. A mãe e os meninos, emboladinhos na cozinha, abancados num toco comprido de madeira. Todos agasalhados em seus pijamas de flanela, mantas e cobertores de algodão da Fábrica Dom Bosco. Papai nos servia a todos nós com gemadas ou mingaus de fubá, para "aquietar e aquentar o corpo", dizia.
Verdade ou não, depois de todos esses cuidados a gente se animava a abrir a janela da cozinha. E olhávamos o pai no quintal, cuidando sozinho do trato das galinhas e dos porcos. Da fresta da janela, o friozinho da manhã gelava todo nosso corpo de uma vezada só.
Daí, meus irmãos e eu, brincávamos de pitar o orvalho. A gente enchia os pulmões e assoprava o ar, até o frio virar fumaça.
Dias como os de hoje, chuvoso, frio e cinzento me lembram a primeira e única vez que fumei o vento.
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NARCISO CEGO
NouvellesNARCISO CEGO: NÃO HÁ ESPELHO QUE NOS TIRE DE NÓS MESMOS É um livro de contos miúdos, de prosa fiada e tecida na roça. Tem cheiro de mato, flor de laranjeira, capoeira e mata nativa. Tem gosto de pasto, arado de terra, vara de pesca, barro, lagoa, r...