A descoberta

2.2K 156 10
                                    


Aproveito a hora do almoço para me esgueirar até a sala do líder. Com a ajuda da tubulação ficou fácil invadir a sala. Desço com cuidado e caio bem na sala dos arquivos. Estão tão bem organizados quanto da última vez que vi. Aproveito para dar uma olhada a mais para ver se encontro algo de útil, porém, são só montes e mais montes de nomes de pessoas que nunca mais viram o brilho nos olhos dos seus familiares.

É assustador ver até onde o desespero pode te levar. Essas pessoas, independente dos motivos, foram humilhadas até a morte, e suas vidas não valiam mais que meras migalhas para os grandões. Elas não tiveram chance e, caso estivessem vivas, e optassem por não fazer parte dessa sujeira, raras as que iriam conseguir se recuperar de suas dívidas. Por um lado mais sombrio, esse jogo parece mais um ato de misericórdia comparado ao que o governo anda fazendo com seu povo.

Ouvi o som de passos rápidos e puxei a arma, indo em direção a porta que levava até a sala do líder. Deixei uma brecha e observei a luz amarelada. O vi dar algumas ordens para um dos subordinados e ir até a bancada de bebidas, que ficava de costas para onde eu estava. Ele se serviu com uma dose generosa de uísque e tirou a máscara para beber, mas não foi possível ver seu rosto daquele ângulo.

Depois de ter bebido a última gota, colocou a máscara no lugar de sempre e se virou. Segurei a respiração quando percebi que ele estava vindo na direção da sala dos arquivos e, com cuidado, me movi para me esconder. Porém, antes que ele pudesse alcançar a porta, as batidas na outra porta ecoaram e ele mudou de direção. Soltei a respiração e voltei para o meu posto.

O anfitrião andava na frente, a passos lentos, acompanhado de uma quantidade generosa de homens de roupas e máscaras pretas, já o líder, não se moveu um centímetro do lugar, totalmente ereto, com as mãos para trás e a cabeça levemente inclinada em sinal de respeito. Com apenas um manejo de mão, o anfitrião os dispensou e os homens saíram da sala, os deixando a sós.

O que pude perceber é o quanto fragilidade não tem a ver com vulnerabilidade. Esse homem que acabou de entrar é velho, pequeno e franzino, mas tem o mundo nas mãos. Sua postura exala um poder tranquilo de quem sabe que não vai ser atingido. Ele não teme a nada.

— Erga a cabeça — ordenou calmamente e o líder obedeceu. — Temos muito o que conversar.

— Como o senhor está? — perguntou com uma nota de voz diferente do habitual, no que interpretei ser preocupação.

— Isso não vem ao caso agora, existem assuntos mais importantes no momento — caminhou calmamente até a bancada e se apoiou, com o líder no seu encalço.

— Não acha melhor sentar? Você ficará mais confortável.

— Eu decido o que é melhor para mim — respondeu sem rodeios.

— D-desculpe — gaguejou e se curvou.

— Há muito tempo que as circunstâncias não favorecem tanto os jogadores... — falou sereno. — Eles estão ficando mais espertos ano após ano, não concorda? — O líder agitou a cabeça rapidamente sem hesitar. — A nova prova foi pensada a título de testar essa esperteza, você tem alguma ideia do que seja? Alguma pista?

— Não, Senhor.

O anfitrião solta uma risada curta.

— Você ainda tem muito o que aprender comigo — diz e logo após tem uma crise de tosse, segurando a bancada com certa dificuldade e com uma mão no peito.

O líder se aproxima rapidamente e leva uma mão nas costas do anfitrião enquanto a outra o ajuda a sustentar o próprio corpo.

— Por Deus, como irei aprender algo com você se sua saúde não anda bem? — perguntou num tom acusatório preocupado.

Round 6 - O policial e a VIPOnde histórias criam vida. Descubra agora