O jogo - parte II

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Pesando tanto quanto uma pluma, deslizei pelo corredor. Não sentia minha existência física, e era de uma sensação tão transcendente que me perguntei se o poder era sempre assim. Essa ilusão de onipotência é o pior dos vícios, e foi ela, somada à ganância, que fez com que essas pessoas chegassem tão longe. Porém, este também é o motivo da queda de todos em algum momento. Poucos são os felizardos que tiveram a chance de triunfar em nome do mau.

Quando entro na sala, sou recebido com olhares de espanto dos antigos jogadores. Suas posturas mudam enquanto me aproximo deles, como se eles tivessem perguntas demais para serem respondidas. Porém, eles não ousam falar, parecem demasiadamente abalados, desconfiados e exaustos. Enquanto isso, a VIP está deitada no sofá, tal qual um gato, me observando calada.

— Entendo que vocês devam ter muitas perguntas e eu ficarei muito feliz em respondê-las, mas não é o momento, tenho algumas coisas importantes para fazer antes. Por hora, curtam o show e descansem — falo e começo a seguir o meu caminho, mas sou interrompido.

— Espere! — Uma mulher de cabelos curtos, franja, de olhar vazio e cheia de hematomas fala. Parei e virei em sua direção. — O que mudou? Precisamos saber! Pessoas morreram em vão e nós estamos aqui como fantoches.

Existe uma raiva mal contida no seu questionamento.

— Mudanças na direção.

É a única coisa que digo e é perceptível o conflito interno dela, mas o número 067 não me diz mais nada e se volta para os companheiros, que se entreolham em completo choque.

— O que foi aquilo lá fora? Achei sexy — comenta a VIP quando me aproximo.

— Uma pequena amostra do que está por vir.

— Estou curiosa e cheia de tesão. — Ela começa a se acariciar e abrir um pouco as pernas.

— Espere um pouco, preciso resolver uma coisa e depois te ajudo com os seus problemas.

— Então vá logo, quanto antes você resolver isso, mas rápido minha buceta estará preenchida — diz com naturalidade e se endireita no sofá.

Saio pela porta lateral e entro numa sala vazia muito parecida com a que tive meu primeiro encontro com a vadia. De certa forma, são boas lembranças, então dou um sorriso. Saco o celular do bolso e conecto na internet, consegui rede, mas não consegui um carregador, a bateria está se esgotando e preciso ser rápido. Recebo uma enxurrada de mensagens por segundo e a minha paciência dança na corda bamba.

Demora um pouco, mas as coisas se estabilizam e começo a agir. Mando mensagem para o meu chefe com todas as coordenadas e explicando a gravidade da situação o mais rápido que posso, pedindo reforços até da guarda costeira.

Enquanto espero uma resposta, tiro alguns segundos para pensar em tudo que vivi até esse momento. Ainda não processei o luto, não pude me dar esse luxo, e o sexo é a única coisa que parece deixar a minha cabeça no lugar, além do meu objetivo principal. E ainda há uma questão, assim que tudo terminar, a VIP e eu não podemos mais ter esse tipo de contato, mas ainda me compadeço por ela e por tudo que passou, não quero deixar que ela se prejudique junto com os outros depois de ter ajudado tanto com a missão. Mesmo que ela tenha agido pelos próprios interesses, prefiro acreditar que os fins justificam os meios. E, sendo bem realista, a expectativa de vida dessa mulher é muito baixa. Ela pode cometer suicídio a qualquer momento.

Esfrego as têmporas, fazendo pressão com a ponta dos dedos. Estou muito tenso e pensando muito nessa mulher. Obviamente não daríamos certo como casal, essa situação toda é atípica, e eu quero me casar e ter filhos com uma mulher que não sinta tesão de me imaginar metendo uma bala no meio da testa dela. Só não quero que a putinha sofra mais, quero que ela viva em paz aos próprios critérios.

Round 6 - O policial e a VIPOnde histórias criam vida. Descubra agora