3 - Um tigre

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Maio de 2002

"Isso não está certo, ela é sua filha! A Shiori-chan precisa do pai, agora mais do que nunca. Mas você não para em casa, não conversa com ela..."

"Como se você se importasse. Desde que engravidou você tá usando essa criança para me forçar a ficar junto de você e agora vem dizer que eu não estou certo?! Você conseguiu o que queria, eu deixei a Mina e vim morar com você. Já não é o suficiente?!"

"Suficiente?... Você se esqueceu o que a Shiori-chan e eu perdemos quando você chegou a essa casa?!?! Já se passaram duas semanas e ela não disse uma única palavra. Até os professores estão incomodados. Hoje recebi uma ligação da escola dizendo que a Shiori-chan agrediu colegas de novo! Na semana passada um adolescente quase perdeu a visão e dessa vez uma criança saiu com o braço quebrado. Foi uma fratura exposta, Katsuo! E a escola está querendo mandar um assistente social para ver a Shiori. Você precisa conversar com a sua filha!"

Os berros que saíam do quarto dos pais atravessaram as paredes finas e alcançaram a menina sentada abraçada aos joelhos no canto escuro de seu quarto.

Ela já não conseguia dormir ainda antes da discussão entre os pais começar. Sempre que fechava os olhos, aquelas imagens voltavam à sua mente.

Duas semanas antes, ela sentia-se mais alegre do que nunca, seu pai finalmente passou a morar com sua família. Algo que a garota de dez anos desejava com todas as suas forças, desde que se entendia por gente. Shiori acordou bem cedo, seus pais saíram para o trabalho e ela correu entusiasmada até a casa do avô, do outro lado da rua. Seu objetivo era usar o tempo antes do horário das aulas na escola para treinar suas habilidades marciais e, com isso, impressionar o pai.

A garota atravessou o jardim, abriu o shoji [1], tirou os sapatos e entrou na casa do avô. O ambiente estava mais silencioso que o comum, mas ela continuou até a sala. Foi quando seus olhos se estatelaram e suas mãos fraquejaram, deixando a mochila com livros cair no chão.

"Ojiisama..."

Esta foi a última palavra que Shiori disse, diante do corpo caído sobre uma poça de vísceras e sangue. Ela não foi à escola naquele dia. Foi encontrada por sua mãe no fim da tarde, sentada na mesma posição que estava agora e segurando a balisong [2] que encontrou junto ao cadáver do avô.

"E o que você quer que eu diga, Eeya?!" Katsuo esbravejou do outro lado da parede "Quer que eu diga a ela que o avô se matou porque não passava de um fraco?! Quer que eu explique que aquele velho biruta cometeu seppuku porque descobriu que a filha não era a santinha que ele pensava e a 'netinha querida', o fruto de um adultério?!?!"

"Como você pode dizer isso?! ... Tudo o que eu fiz foi por você! Por nós!"

"Por nós?! Você invejava a Mina desde que éramos crianças e arranjou uma barriga para roubar o marido dela! Me infernizou para que a deixasse, por dez anos. Fez tudo isso por você mesma. Então não reclame."

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