15 - Ninguém pode ser salvo

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Setembro de 2003

Nada mudou. Para Shiori, os últimos dois anos pareciam não passar de uma doce e maravilhosa ilusão. "Não deixe que ninguém te faça sentir um lixo outra vez". As palavras que ouviu de Kazutora, as mesmas que a salvaram e lhe deram forças para seguir em frente, ecoaram em sua mente, enquanto a menina aguardava que ele aparecesse do outro lado do vidro da sala de visitas do Reformatório Infanto Juvenil de Tokyo.

Mas as palavras que por dois anos foram seu lema, já não podiam ajudá-la. Shiori não precisava que alguém amaldiçoasse sua existência. Como antes, ela mesma era seu próprio algoz. E, mais uma vez, apenas Kazutora poderia entender seus sentimentos. Afinal, ambos dividiam a mesma culpa.

Um mês se passara desde o incidente que devastou a vida de tantos. Shiori não compareceu ao funeral do homem que costumava ser sua inspiração. O remorso a impedia de encarar as pessoas que perderam uma parte de si mesmas quando que ele se foi. Ser a razão pela qual Shinichiro estava na loja na hora do assalto, escolher estar ao lado do assassino, abandonar Mikey fragilizado e sozinho no momento mais difícil da vida dele... ela sabia que nada disso merecia perdão.

A jovem Baji foi a única pessoa a se sentar no banco reservado para a família de Kazutora no julgamento dos adolescentes acusados pelo assassinato do proprietário da S.S Motor. Keisuke foi absolvido depois de seu melhor amigo confessar e assumir toda a responsabilidade pela tentativa de assalto seguida de morte.

Kazutora foi condenado à pena mínima de quatro anos, com a possibilidade de soltura em dois por bom comportamento. A defensora pública que o assessorou argumentou que, além da menor idade e falta de antecedentes, o garoto estava acometido por transtornos emocionais em função das agressões sistemáticas que sofreu do pai durante a infância. Mas o que realmente influenciou o veredicto, foi o depoimento favorável de Sano Manjiro, o irmão da vítima que discursou em defesa do assassino.

Apenas enquanto Mikey sentava-se no banco de testemunhas, Shiori desviou os olhos para o rosto de alguém que não fosse o namorado. Apesar da generosidade, algo sutil na expressão e voz do garoto, a fez perceber que ele travava uma batalha interna entre ódio e amor pelo amigo.

A sessão terminou de forma conturbada. Takeomi estava visivelmente emocionado e se descontrolou, exigindo aos berros que o assassino de seu companheiro fosse punido com mais rigor, em nome da 'justiça por Shinichiro'. Foi preciso que Waka e Benkei o tirassem do tribunal, protagonizando uma cena que foi como o bater de mais um prego no coração já tão dilacerado da garota. Ela compreendia a dor e a sede de vingança do senpai. Em qualquer outra circunstância, provavelmente agiria da mesma forma. Mas... não contra o garoto que lhe deu uma razão para viver. Independente de o quão erradas as ações de Kazutora estivessem, Shiori não podia odiá-lo.

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