0,02- Primeiras impressões intrigantes

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Faz cinco minutos que estou sentada em uma cafeteria que fica próximo à um shopping no centro da cidade. Algo que reparei nos últimos tempos é que até mesmo comprar café na capital era mais caro do que em Campo Florido. Eu não costumava me importar, mas isso mudou quando percebi o quanto a minha situação financeira é deplorável ao ponto de me fazer chorar a madrugada inteira, e me perguntar se existia alguma maneira de declarar falência pessoal no Brasil.

Eu havia me preparado para esse encontro, dois dias depois que recebi a notícia da mudança de Vanessa e do casamento de Anajú, acabei mandando inúmeras mensagens para a minha melhor amiga perguntando se ela já havia conseguido marcar um ''reunião'' com esse garoto.

''Eu vou conversar com ele hoje mas ás vezes ele é difícil de se encontrar.''

''Por favor Ana Júlia! Eu estou desesperada!''

''Ei! Você sabe que não gosto quando me chamam de Ana Júlia! Irei conversar com ele ainda hoje, eu prometo! Podemos falar mais tarde? Estou indo trabalhar agora.''

''Você disse que gosta quando Bruce te chama assim, você é uma hipócrita.''

''Em momentos específicos que não vem ao caso, falo com você depois.''

''Imagino quais momentos são esses, beijos até mais.''

Não demorou muito para que ela me respondesse. No entanto, não esperava que ela fosse até o apartamento onde por enquanto ainda consigo morar só para me contar cada detalhe.

''Como você não pode se encontrar com alguém totalmente desconhecidos vou te contar algumas informações.''

Basicamente: Ela havia conversado com uma colega de trabalho que tinha uma quedinha por ele (muito estranha por sinal) e acabou descobrindo a biografia completa do meu possível futuro colega de quarto.

Theo Zhang, vinte e três anos, o pai nasceu em Beijing e a mãe em Belo Horizonte, se conheceram em circunstâncias desconhecidas e abriram um restaurante juntos no final dos anos oitenta. Aparentemente Theo parecia ser cuidadoso com a vida pessoal mas não se importava muito em responder perguntas, o motivo pelo qual procura dividir um apartamento mesmo não sendo pobre em circunstância alguma, ainda não foi esclarecido.

Espero que eles não estejam falidos igual à mim

— Bom dia! Vai querer alguma coisa?— perguntou uma das garçonetes.

— Ainda não, estou esperando por alguém. Irei fazer o pedido mais tarde mas obrigada.

Ela assentiu e desviou a atenção para um casal que estava na mesa ao lado. Ao contrário do que parece, ele não esta atrasado, eu acabei me adiantando provavelmente por estar nervosa e esperançosa ao mesmo tempo, se é que isso é possível.

— Bom dia.

Engoli em seco e parei por um instante para encarar a pessoa que esta na minha frente. Definitivamente era ele. Sei que pode parecer inconveniente mas não pude deixar de reparar que ele é bonito. Parece sério, mas ao mesmo tempo simpático com a sua camisa social branca, cabelos pretos e lisos, olhos pequenos e estreitos.

— Bom dia. Sou a Carol, é um prazer te conhecer — me apresentei, um pouco sem graça.

— Igualmente, sou Theo.

Assenti e permaneci em silêncio por alguns instantes. Eu deveria começar uma conversa casual? Ou apenas ir direto ao ponto e explicar a minha situação? Não havia pensado muito bem em como deveria seguir, não quero parecer desesperada demais (mesmo não sendo mentira) e nem despreocupada, acho que encontrar um meio termo é mais difícil do que pensei.

— Você quer pedir alguma coisa?— ele perguntou gentilmente.

— Um café tradicional, por favor.

Observei Theo acenar para a garçonete e realizar o pedido, estava tão pensativa que nem ao mesmo prestei atenção no que ele havia dito para ela. Mas pouco tempo depois as xícaras de café estavam na mesa.

— Como não quero ocupar muito do seu tempo acho melhor eu começar — falei, bebendo um pouco do café. — Estou procurando por um colega de quarto. Moro em um apartamento próximo ao centro da cidade, mas longe o suficiente para não ser barulhento. Dividiríamos o aluguel e as contas de água, luz, condomínio e as outras despesas podemos organizar mais tarde.

— Ana Júlia me disse que o aparamento é bom e que você é uma colega de quarto perfeita, o que eu achei um pouco difícil de se descrever, mas enfim, você poderia me mostrar algumas fotos do apartamento?

Colega de quarto perfeita, isso nem existe

Peguei o meu celular na minha bolsa e digitei a senha, abrindo as fotos que havia tirado no dia anterior essas que mostravam cada parte do apartamento menos o meu quarto.

— São três quartos, eu dividia com duas amigas, então você pode escolher qualquer um deles. Um banheiro, uma cozinha, sala — expliquei. — Mas acho que não faz sentido eu descrever se você já esta vendo — ri um pouco envergonhada.

— Não é problema — assegurou me entregando o celular.— Eu faço faculdade durante a manhã e trabalho até parte da noite, provavelmente não vamos nós ver muito, acho que não seria tão estranho. Estou procurando um lugar para morar de imediato, então se não mudar de ideia, acho que irei ser o seu colega de quarto.

Segurei um suspiro de alivio e apenas assenti. Algo dentro de mim parecia comemorar o fato de que as minhas despesas mensais haviam sido reduzidas em cerca de cinquenta por cento, mas ainda assim, a minha consciência dizia que isso era loucura. Entretanto, parecia que ele não se importava com o valor já que não fez uma pergunta sequer sobre isso, e estava disposto a se mudar imediatamente, provavelmente essa é a melhor oferta que eu posso encontrar.

— Por acaso, esta certo que precisa se mudar de imediato? Não quero me intrometer, só estou um pouco curiosa.

— Posso dizer que sim mas prefiro não comentar sobre isso, sinto muito — sorriu brevemente sem mostrar os dentes.

— Tudo bem, não precisa dizer é a sua vida pessoal de qualquer maneira. Então, podemos discutir os valores agora.

Theo bebeu um pouco do café e balançou a cabeça em movimento de negação. Ele me parecia intrigante, sério o suficiente para eu não querer mais fazer perguntas e ao mesmo tempo me deixou curiosa, afinal, não é todo dia que se encontra um colega de quarto com tanta facilidade.

— Não me preocupo com isso, apenas me mudar é o suficiente, qualquer valor está bom para mim.

— Certo — concordei. — Fico feliz que tenha encontrado você, colega de quarto.

 — Fico feliz que tenha encontrado você, colega de quarto

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