Eu havia apresentado todo o apartamento para Theo, o que não demorou tanto tempo já que ele não é muito grande, afinal, se eu estivesse em um condomínio de luxo definitivamente não estaria buscando por um colega de quarto. Ou talvez sim, já que Theo Zhang por algum motivo acabou terminando aqui.
— Precisa de ajuda para organizar as suas coisas?— ofereci um pouco receosa.
— Obrigado mas não quero incomodar — dispensou colocando uma das caixas na porta do quarto que pertencia a Anajú.
— Não é incômodo, tenho tempo livre de qualquer maneira — assegurei me aproximando da porta.
— Se é assim, vou querer, obrigado.
Assenti e levantei a caixa. Ela não estava muito pesada, coloquei encima da cama e abri retirando a fita adesiva que estava lacrando a tampa. Theo assentiu para mim e entendi como um sinal para abrir e começar a tirar o que estivesse lá dentro. Eram alguns porta-retratos e objetos de decoração.
Algo chamou a minha atenção, era uma foto de um garotinho (possivelmente ele) junto com uma outra garota com os cabelos presos por várias presilhas coloridas, parecia que estavam em algum lugar na China, já que as letras na fachada das lojas certamente não pertenciam ao alfabeto romano.
— É você?— perguntei curiosa mostrando a foto.
— Sim. Nem lembrava dessa foto — falou aparentemente um tanto surpreso. — Foi em em dois mil e cinco eu acho, sou eu e a minha irmã mais nova, éramos bem pequenos nessa época.
— Ela tem um bom gosto para escolher penteados. Essa foto não foi tirada aqui, foi?
— Não — confirmou pensativo. — Acho que tiramos ela em Xangai mas não tenho certeza. Meu pai é de Beijing, e mesmo que ficássemos por lá às vezes, nunca chegamos a morar por mais de dois anos.
— Entendo. Parece ser um lugar bonito — elogiei.
Theo assentiu e sorriu brevemente, colocando alguns livros na estante. Coloquei o porta-retratos encima da cama já que não sabia onde ele iria querer guardar. A caixa não estava tão cheia quanto as outras, então em pouco tempo consegui retirar tudo o que estava lá e acabei colocando nos lugares que ele me indicou.
— Obrigado pela ajuda mas acho que não irei mas precisar.
— Tudo bem, qualquer coisa pode me chamar.
Sai do quarto e me sentei no sofá, o programa culinário ainda estava passando mas ao invés do cappuccino no mínimo questionável de antes, agora era uma receita de bolo de chocolate.
— Você gosta desses programas?— perguntou Theo indo em direção à cozinha, que ficava conjugada com a sala.
— Para ser sincera, nem sei direito o que ela está ensinando mas não acho que precisem de tantos ingredientes assim para fazer um bolo de chocolate, deveria ser mais simples.
— Eu adorava assistir isso quando mais novo, mas nunca fiz nada do que ensinavam — comentou. — Desculpa mas tem um pouco de café?
Me levantei e balancei a cabeça negativamente. Até mesmo de fazer café eu me esqueci, parabéns Carol, hospitalidade zero. Caminhei em direção a cozinha e coloquei uma cápsula de café tradicional na cafeteira.
— Desculpe deveria ter feito isso antes — admiti um pouco envergonhada.
— Sim, deveria.
Engoli em seco um pouco confusa. Isso foi um insulto? Quer dizer, eu realmente esqueci de fazer o café mas ele não precisava concordar e por alguma razão, era nítido que aquilo não havia sido uma brincadeira. Porém, ainda preciso reunir a paciência que existe dentro de mim e fingir que não entendi absolutamente uma palavra sequer.
— Pode se servir quando estiver pronto — forcei um sorriso.
Iria servir para você se não tivesse concordado desnecessariamente com uma afirmação que eu acabei de fazer.
A tarde passava vagarosamente, eu estava lendo os classificados no jornal pela primeira vez durante toda a minha existência, acho que o meu nível de tédio acabou ultrapassando os limites e ainda assim, continuava precisando procurar um emprego.
Será que fui tão grossa assim em não fazer café?
Bufei e me levantei, colocando o jornal na mesa de centro. Theo havia sido verdadeiro quando disse que passaria a tarde inteira fora, já se passavam das seis e ele não havia chegado, certamente não estaria por aqui até um pouco mais tarde da noite.
Liguei a televisão e coloquei o primeiro filme que apareceu no aplicativo. Era algo sobre um clichê adolescente patético (que eu amaria no passado) só que com alguns cenas mais explícitas do que eu estava acostumada a ver.
— Os filmes adolescentes do passado costumavam ter o primeiro beijo na metade do filme, já se passaram quinze minutos e eles dormiram juntos no mínimo duas vezes — constatei um pouco perplexa.
Se Anajú e Vanessa estivessem aqui certamente estaríamos rindo do roteiro apressado do filme, mas assistir sozinha era uma experiência um pouco deprimente, uma vez que: eu não tinha ninguém para comentar o quanto aquilo era ridículo.
O barulho da porta sendo fechada me fez despertar dos meus devaneios. Arregalei os olhos ao perceber que uma cena nada amigável se passava na televisão, talvez aquele devesse ser o mais explícito que aquele filme poderia ter feito, ou seja: roupas eram inexistentes e o barulho estava muito mais alto do que o normal.
Senti o desespero tomar conta do meu corpo, tentei encontrar o controle antes que Theo se virasse mas foi tarde demais. Consegui ver ele parado na sala com uma expressão de choque.
Essa definitivamente é a maior vergonha que eu já passei em toda a minha existência.
Sorri amarelo e peguei o controle trocando o canal na mesma hora. E adivinha? O programa de culinária estava passando outra vez, o que nesse momento eu não sei especificar se é bom ou ruim.
— O que foi isso?— indagou Theo coçando a cabeça.
— É que — engoli em seco e forcei um sorriso. — Eu realmente gosto muito do programa de culinária.
Theo assentiu ainda me olhando um pouco perplexo e entrou no seu quarto sem dizer absolutamente mais nada. Fechei os olhos querendo desaparecer completamente do universo, esse foi o pior momento possível para assistir um filme tão estranho assim.
Depois disso nem preciso me perguntar se causei uma boa primeira impressão. Afinal, a resposta estava óbvia: não.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Estatísticas e Demonstrações ✓
أدب المراهقينCarol estava desesperada. Após receber a notícia que as colegas de quarto iriam se mudar, acabou percebendo que não poderia viver sozinha com todas as despesas. Em uma medida emergencial, ela acaba aceitando morar com um garoto, mesmo que ache isso...