0,03- Mudanças repentinas

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Me deitei no sofá completamente exausta. Anajú bebia o segundo copo de água e Vanessa secava a testa com um guardanapo.

— Obrigada por me ajudarem.

— Era impossível você fazer isso sozinha, nem eu fazia ideia que havia deixado tantas coisas aqui. Mas fiquei surpresa que ele já esteja se mudando amanhã, algo sério deve ter acontecido.

— O que será? Talvez ele e os pais se odeiem — supôs Vanessa. — Ele é bonito?

Assenti um pouco pensativa. Posso estar sendo intrometida mas é difícil não querer saber o motivo para alguém estar tão desesperado assim, mas ao mesmo tempo, podem existir inúmeras explicações para uma mesma pergunta.

— Ele é, mas isso não importa. Ainda quero saber o porque está se mudando tão rápido assim, quer dizer, eu mal tive tempo para respirar. Você faz alguma ideia Anajú?

— Na verdade, não — balançou a cabeça negativamente. — Talvez a Beatriz saiba de alguma coisa.

— Beatriz?

— É, além dela ter uma queda por ele. O que é comum já que qualquer garoto bonito é o amor da vida dela, ela é bem fofoqueira. Talvez saiba de alguma coisa.

Vanessa se deitou no sofá e ligou a televisão. Estava passando algum programa de culinária que eu não conheço, provavelmente bolo de kiwi não seja algo que eu esteja interessada no momento, ou algo que eu sabia da existência.

— Por que decidiu se casar agora?— perguntei curiosa.

— Acho que estava na hora, não tinha parado para pensar nisso mas agora, sei que não podemos esperar mais.

Eu queria dizer que entendia como Anajú estava se sentindo mas não faço a mínima ideia. Todos os meus relacionamentos amorosos duraram apenas alguns meses e não foram muito felizes, já que eu nem gostava deles de verdade, só não queria estar sozinha na maior parte do tempo, mas acho que até mesmo disso já me cansei.

— E o Rodrigo? Eu gostava tanto das alfinetadas que vocês trocavam naquela época — lembrou Vanessa. — Achei que vocês iriam ser o típico caso de enemies to lovers.

Sorri um pouco surpresa ao ouvir esse nome. Anos atrás, quando eu ainda morava em Campo Florido me lembro de brigar com Rodrigo absolutamente a todo instante mas não o odiava, ele só era irritante e ainda deve ser. No entanto, não conversamos mais. Nunca chegamos a namorar, acho que só nos beijamos uma vez e certamente nessa época eu também estava muito entretida na ideia de um clichê como enemies to lovers, o que no caso nunca aconteceu.

— Não éramos namorados nem nada, ele ainda deve ser meio chato. Desculpa Anajú sei que ele é seu primo.

— Você não mentiu mesmo, ele é irritante. Mas acho que está morando no interior outra vez, não que Campo Florido não seja mas estou falando de um lugar mais isolado. Ele deve estar se divertindo por lá. Meus avós acham que ele ainda tem oito anos de idade, mas mentalmente falando isso é bem possível.

— Sabe o que eu reparei? Esse é o nosso último dias juntas nessa casa, como colegas de quarto.

Acho que ainda não havia parado para pensar nisso e provavelmente seria melhor não ter pensado, já que, agora um filme de memórias felizes se passavam na minha mente. Eu teria um novo colega de quarto, um garoto que não conheço muito bem e parece ser até mais desesperado do que eu. Não é exagero dizer que não iria ser a mesma coisa que morar com Vanessa e Anajú, mal vamos nos ver e talvez nem iremos conversar muito. Mas não é como se existissem muitas opções, acho que esse é o momento em que as coisas começam a mudar no geral, para todos.

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