Estava chovendo. Algo que eu constatei desde que me mudei para Belo Horizonte é que o clima consegue ser muito mais instável em comparação a Campo Flórido, então uma manhã ensolarada pode se transformar em uma tarde completamente nublada, o que pode ser terrível para quem não tem um guarda-chuva.
Ajeitei a sacola com o café da manhã que eu havia comprado e adentrei a portaria do prédio. Mas surpreendentemente, a primeira imagem que eu vi foi a minha mãe, sentada em um dos sofás. Acenei para o porteiro rapidamente e caminhei relutantemente em direção à ela.
Por que ela está aqui?
— Mãe?
— Oi, será que podemos conversar?
Agora, estávamos sentadas em uma das mesas de uma cafeteria. Sim, aparentemente sempre envolve café, chega a ser irônico. Enfim, existe um silêncio constrangedor entre nós que me faz perguntar o porque ela parece tão alheia, será por causa da Ana?
— Eu preciso trabalhar daqui a pouco. Aconteceu alguma coisa?— perguntei tentando adiantar o constrangimento.
— Tudo bem — minha mãe assentiu. — Eu queria me desculpar, não só por mim, mas pelo que Ana fez. Sinto muito.
— Como você ficou sabendo?
— Sua irmã me contou. Acho que ela achou que eu iria defendê-la, mas eu entendo, sempre fiz isso durante a minha vida inteira — ela disse, bebendo um pouco de café. — Sabe, não foi certo ela ter copiado a chave e muitas coisas que aconteceram nos últimos tempos também começaram a me preocupar. Desde que ela fez quinze anos comecei a perceber que a acidez dela não era mais apenas ironia, então, muitas pessoas começaram a me alertar sobre isso.
— Eu sempre te alertei sobre isso mas acho que não foi o suficiente.
— Sinto muito. Acho que agora eu entendo porque você se mudou tão rapidamente, como poderia viver assim? Eu deveria ter percebido que você também precisava de mim, espero não estar muito atrasada.
Ouvir um pedido de desculpas não me deixa feliz, mas me sinto aliviada em saber que finalmente essa situação incômoda pode estar começando a se resolver. Ana pode ser inacreditável e desagradável na maioria das vezes? Sim, sobre isso não resta dúvidas, mas não é como se fosse impossível ela mudar esse comportamento, assim como existem muitas coisas nas quais eu preciso melhorar, é a mesma coisa para ela.
— Foi um dos motivos mas não foi só por isso, sabe, eu queria finalmente me dedicar aos estudos. Me sinto muito culpada pelo meu ensino médio nada dedicado.
— Mas você se formou, é isso que importa — ela assegurou. — Acho que faz tempo que não conversamos assim, sabe, como mãe e filha.
— Faz muito tempo — sorri. — Eu não estou com raiva da Ana, só fiquei chateada com o comportamento dela. Foi muito desagradável, é reconfortante que você tenha percebido.
— Sim. Uma pena que demorou tanto tempo, mas não se preocupe, ela está de castigo. Vamos ver se ela consegue sobreviver mais de duas semanas sem celular e qualquer sinal de internet.
— Sério?
— Eu revoguei o plano do celular dela e escondi o roteador. Comecei com um castigo mais leve, se ela fazer outra besteira vou aumentar o tempo para meses, e provavelmente irei ter que cortar outros privilégios como assistir filmes e séries. Ela vai ter bastante tempo para pensar no que fez enquanto finalmente lava a louça.
— Ana arrumando a casa? Achei que ela nunca iria fazer isso.
— Para tudo tem a sua primeira vez.
Bebi um pouco do café e olhei pela janela, ainda estava chovendo mas dessa vez parecia mais calmo. Como se finalmente até o tempo começasse a se resolver.
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Estatísticas e Demonstrações ✓
Teen FictionCarol estava desesperada. Após receber a notícia que as colegas de quarto iriam se mudar, acabou percebendo que não poderia viver sozinha com todas as despesas. Em uma medida emergencial, ela acaba aceitando morar com um garoto, mesmo que ache isso...