0,07- Metades incertas

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— Obrigada, volte sempre.

— Você aprende rápido — comentou Luiza enquanto guardava algo no caixa.

Eu havia conseguido o emprego que Rafael tinha dito. Em poucos dias consegui me adaptar, não é algo semelhante com o que eu fazia na Aromas e Cores e muito menos um cargo que eu queira estar para o resto da vida, mas está sendo interessante.

— Acho que sim — concordei organizando as notas de vinte. — Não estamos sem troco dessa vez.

— Isso é bom, estou aliviada. Você quer almoçar?

— Eu queria mas não vou poder. Combinei de me encontrar com algumas amigas minhas.

— Tudo bem, fazemos isso depois então, já vou indo — disse Luiza acenando para mim.

Caminhei em direção à um restaurante que havíamos combinando. Fico impressionada com o talento que Anajú tem para descobrir lugares bonitos, quer dizer, quais são as possibilidades de se descobrir um restaurante inspirado nos anos sessenta no meio do centro da cidade? Certamente são baixas, mas não para Anajú, ela parece ter uma imã para decorações e lugares coloridos.

— Faz tanto tempo que não almoçamos todas juntas — constatou Vanessa, ela observava o cardápio atentamente.

— Não faz tanto tempo assim — discordei. — Mas estou feliz que vocês vão pagar, ainda não recebi o meu salário.

— Eu sabia que algum dia Rafael iria fazer algo de útil! — Vanessa afirmou orgulhosa, dando um tapa na mesa. — Quem diria que o vício dele em coisas inúteis iria ajudar alguém!

Anajú bebeu um copo de água e permaneceu sem dizer nada. Ela parecia um pouco cansada, o que me deixou preocupada, sei como organizar um evento pode ser terrível, a pouco mais de quatro anos eu estava completamente maluca com a festa de aniversário da minha irmã, se eu fosse enumerar uma das piores fases da minha existência essa estaria em um dos primeiros lugares.

— Você está bem?

— Estou cansada. Fiquei acordada até as duas da manhã porque a minha mãe estava enlouquecendo no telefone. Ela disse que em Campo Florido surgiu um boato que estou grávida — Anajú bufou. — Então eu perguntei se isso era os anos quarenta, mas ela disse que os vizinhos são importantes, e começamos a discutir.

— Mas você não está grávida, está?— perguntou Vanessa, recebendo um olhar de desaprovação.

— É claro que não. Mas mesmo se estivesse, quem sai falando isso por aí? Desse jeito acho que não vou estar viva até dezembro.

— Dezembro?— indaguei confusa.

— Eu não falei? Está vendo? Não estou nada bem — ela suspirou. — Vou para Londres em dezembro, a família de Bruce vai vir para o casamento mas concordamos que deveríamos pelo menos fazer uma recepção para a família dele, e ela não é nada pequena. Isso me deixou ainda mais nervosa.

— As pessoas da nossa cidade são fofoqueiras, eu era uma delas, já me acostumei — falei segurando o riso. — Devem estar com ciúmes que você está se casando, a maioria só fica na janela vigiando a vida alheia, provavelmente esse será o meu futuro. Olhando pela janela com sete gatos ao meu redor enquanto a minha irmã enche a minha paciência e adianta o meu fim.

— Em falar nisso, como está sendo morar com Theo? Eu vi ele outro dia no Instagram, ele é bem bonito. Se eu não estivesse com Rafael iria tentar alguma coisa com ele — Vanessa sorriu de canto, recebendo um tapa na cabeça desferido por Anajú. — Aí! Doeu!

— É pra doer mesmo.

Como eu poderia explicar a minha convivência com Theo? Não tenho muito para dizer, ele está silencioso ultimamente, mal consigo saber quando ele está em casa ou não. Às vezes me pergunto se ele se lembra do dia em que acabou bebendo em excesso.

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