Haviam dias em que me sentia patética e minúscula.
Nesses dias em especial, eu me sentava no chão do banheiro e respirava fundo. Passava de minutos a horas inalando pinho sol e me permitindo ser minúscula.
Nessas horas em especial eu não era ninguém para ninguém, era só uma pessoa qualquer do mundo passando por problemas, ninguém me conhecia ou opinava e eram nesses momentos em que eu mais me sentia parte de algo.
Como um segredo compartilhado por pessoas solitárias, naquele momento meu coração batia da mesma forma que o de diversas pessoas e ainda assim, era como se aquelas batidas fossem a resposta para uma pergunta a muito sussurrada.
Era reconfortante a sensação egoísta de que eu não estava sozinha me sentindo pequena, eu sabia que muitas outras faces naquela mundo se sentiam assim e dentro daquele banheiro eu tinha acesso a todas. Essa era a vantagem da solidão, era excelente para imaginar.
Imaginar qualquer outro lugar onde eu queria estar, imaginar como seria não estar na minha pele, imaginar como seria poder mudar o mundo.
E ainda assim, sentada no chão de um banheiro eu era a versão mais crua do meu ser, a versão defeituosa e sensível que nunca mostrava para ninguém, eu era humana.
E depois de tanto tempo sendo robótica, percebi tardiamente que tudo o que mais almejava era me sentir humana, falha e com um maldito livre arbítrio.
Minha humanidade não era um problema, não deveria ser tratada como se fosse.
- Posso (não) ser prefeita?
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Tudo aquilo que eu (não) disse
PoesiaPequenos textos de alguém que se afogou com todas as coisas que nunca disse, fez ou sentiu. Ou Alguém que espera que palavras cruzem o mundo e mudem o tempo.