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|Capítulo 20
|Lívia, narrando.

Acordo ouvindo a conversa de Andreas no  celular. Aparentemente, conversa com Patrícia.
Continuo de olhos fechados, apenas ouvindo tudo. Estava no viva voz pois ele está aparentemente atrasado pro treino e se arruma enquanto conversa com ela.

— Hugo, é importante para ela. Estamos tentando ter uma vida normal. O que custa você vir?

— Não dá Patrícia. Você sabe disso.

— Dê seu jeito, de que forma quer uma guarda compartilhada se mal vem vê a filha.

— Se você não tivesse ido tão longe talvez eu conseguiria, merda!

— Dê seu jeito. A garota não para de chorar perguntando pelo pai.

— Tudo bem, vou ver o que faço. Diga que amo ela.

Abro os olhos devagar, ele joga o celular longe, está estressado. Raramente vejo ele tão nervoso como agora. Ouço seus passos até a cama. Ele levanta devagar o cobertor e se enfia embaixo dele.

— Amor — sussurra. Acaricia meus cabelos, enquanto eu finjo estar acordando agora.

— Bom dia.. — murmuro, ele está com os olhos transbordando de água. Segurando o choro acredito eu.  Beijo seus lábios de forma carinhosa, trazendo ele para mim.

— Você é minha vida. — murmura me dando alguns selinhos. — só minha vida.. e eu amo você.

— Está atrasado, não? — pergunto.

— Tenho problemas a resolver. Vou esperar o Matheus chegar.

— Isso não é bom. — suspiro. — Patrícia está sendo uma filha da puta com você.

— Você ouviu? — ele franzi o cenho.

— Óbvio, vocês estavam gritando. — dou uma risadinha sem graça.

— Desculpa — ele murmura. — não queria te deixar triste mas se caso não resolver essa situação vou ter que ir pra Portugal as pressas.

— Tudo bem amor. — confirmo. — eu sei que a barra está pesada.

— Você pode vim junto, se quiser. — ele sorri. — na verdade eu iria me sentir bem mais seguro pra resolver qualquer coisa com você do meu lado.

— E eu adoraria ir, mas tenho que resolver alguns assuntos pendentes com a diretoria do Palmeiras e fazer uma bateria de exames essa semana. — explico.

— Tudo bem, qualquer coisa eu aviso você. — ele acaricia meu rosto. — Sei que já te disse isso um milhão de vezes hoje e que você deve estar cansada de escutar, eu amo você. — murmura agarrando meu corpo. — amo a força que você me dá e seja lá o que a maluca daquela médica falou, eu quero que saiba que você nunca me trouxe problema algum, tá legal? — sussurra com a voz rouca mais gostosa do mundo.

— Eu não ligo para o que ninguém diz sobre nós. — dou risada apertando suas bochechas. — e você tem que ficar mais calmo mocinho. Nós vamos passar por cima disso também.

— Eu espero que sim. Isso está atrapalhando muito o meu desempenho nos treinos.. — bufa.

— Vai melhorar Andreas, tenha fé. — acaricio seus ombros.

Matheus chegou pelas dez horas da manhã e logo os dois saíram resolver os assuntos que estavam causando neurose em toda a equipe e principalmente no Andreas. Eu me arrumei rápido e pensei em algo bom para falar com a diretoria. Quero surpreender muito e não deixar a desejar nessa vaga.

A entrevista foi bem sucedida, o pessoal me amou e apoiou totalmente no time. Mas agora faltavam os exames que eram essenciais. Eu já havia tirado sangue e feito outros exames ocupacionais, estava apenas aguardando os resultados. Quando o médico me chamou.

— Lívia, prazer Ramon, médico geral da empresa. — me estende a mão e eu o cumprimento.

— Tudo certo doutor? — pergunto um pouco apreensiva pois as pessoas que estavam em minha frente na fila de espera, todas pegaram os resultados e foram liberados, eu sou a primeira a ser chamada pelo médico.

— Tudo regularmente bem. — ele sorri. — eu andei olhando o preenchimento de dados seus e você afirma que não está gestante, está com o ciclo menstrual em dia?

Quase me engasgo com a saliva.

— Bom, é para estar regular. — solto um riso nervoso. — aconteceu alguma alteração no exame?

— Bom como você pode ver — ele mostra um papel para mim. — positivo para gestação. Você está grávida! Meus parabéns!

— Ah não...

Um filme se passa em minha mente, em questão de segundos. O primeiro toque de Andreas e todas as vezes que falamos de maternidade. Eu não sei exatamente qual vai ser a reação dele, não estou nem sabendo lidar com a minha.

— Tem certeza doutor? — insisto. — deve haver algum engano.

— De forma nenhuma minha querida, nossos exames são de alto padrão, dificilmente são encontrados erros.

Respiro fundo tentando segurar as lágrimas. Não queria chorar na frente do médico como uma irresponsável.

— Obrigado doutor. — pego os papéis da mão dele e saio imediatamente do consultório.

Meu celular toca, sento em um banco próximo da saída.

— Amor? — Andreas parece animado.
— Oi — a única coisa que consigo dizer.
— Está tudo bem? — o tom de voz muda para o de preocupação.
— Está tudo certo, já vou indo pra casa. Vou passar na farmácia antes.
— Lívia, tem certeza que está tudo bem? Quer que eu vá te buscar?
— Não amor, eu vou até você. Onde você esta?
— Estou no CT agora. Mas logo estou indo pra casa, te espero aqui.
— Tudo bem, já vou chegar aí.

Conto até dez umas vinte vezes. Eu preciso me acalmar, eu preciso dirigir. Releio o papel novamente e novamente. Sendo sincera comigo mesma, eu não estou preparada para uma experiência dessa e aposto que Andreas muito menos. Como vou deixar claro isso a ele se já estou gerando um filho dentro de mim?

𝐇𝐢𝐥𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭 ² • 𝐀𝐧𝐝𝐫𝐞𝐚𝐬 𝐏𝐞𝐫𝐞𝐢𝐫𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora