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— Lívia, narrando.
Quatro anos se passaram.

Eu me mudei para Santa Catarina, no sul. Prestigiei a gestação do Miguel bem próxima do litoral praiano. Hoje, meu menino está com quatro anos de idade. Esperto, corre como ninguém e ama jogar bola. Mesmo eu insistindo para a natação, ele prefere e diz com a boca cheia que quer ser jogador de futebol.

Nós primeiros anos sem Andreas, eu praticamente enlouqueci. Eu me senti culpada por ter saído de sua vida sem ao menos escuta-lo.
Mas aquele dia, aquele momento eu não estava preparada. Eu senti na pele a dor da saudade... E como.

Acompanhei todos esses anos sua vida, por redes sociais, televisão, vídeos e até áudios. E mesmo sem ele ter noção, eu orei para que ele pudesse se livrar da culpa, não queria que ele entendesse que foi o culpado pela minha partida.

Hoje, a todo instante e a cada minuto, o Miguel pergunta sobre o pai. Ele criou um personagem fictício para chamar de pai.  E isso me dói, todas as vezes que ele pede pelo pai dele.

Quando decidi voltar ao Rio de Janeiro e começar novamente a minha vida, eu sabia que correria o risco de encontra-lo, e que até ele poderia me encontrar. E eu não queria chegar em um momento que ele estivesse bem. Eu não queria piorar a sua melhor fase.

Eu voltei pras redes sociais, eu deixei meu cabelo crescer, e amadureci muito com todos esses anos, sendo uma mãe sozinha, não porque ele nos abandonou mas porque eu abandonei a nossa história.

Havia combinado com alguns colegas do escritório de onde eu trabalho para pegar uma praia no domingo. E aqui estamos nós, nos encantos de Copacabana. O Miguel está encantado com tudo, corre para lá e para cá com sua bola de praia.

— Ele é muito inteligente. — Melissa diz olhando o pinguinho de gente conversar com outras pessoas.

— Eu não sei quem ele puxou, mas esse lado conversador não é meu e nem do pai dele. — dou risada.

Olho ao redor e por um minuto de distração perco o Miguel de vista. Meu coração acelera. Largo o copo e corro atrás dele. Vejo ele correr em direção ao mar. E por mais que eu corra depressa, não consigo ao menos alcançar ele.

— Miguel — grito. — volta aqui!

Os pezinhos dele já estão beirando o mar. Meu coração da pulos e meu estômago parece receber socos. Se ele entrasse mais um pouco, qualquer onda levaria ele. Ele não tem noção alguma.

Eu conhecia bem aquela espinha corporal e aquelas costas. Ele segura tão bem meu filho no colo e parece procurar a mãe. Diminuo os passos tentando conter o meu peito que sobe e desce a medida que vejo Andreas brincar com o nosso filho.

Nossos olhares se cruzam e eu lembro de tudo rapidamente, ele está em transe e confuso, olha bem para o menino em seu colo e depois para mim, em seguida segura a mão do Miguel.

— Papai — Miguel afunda o rostinho na curvatura do pescoço de Andreas e ele sem entender nada me olha atento.

— Lívia? — suspiro pesadamente, deixando um sorriso escapar. Um sorriso de paz.

— Andreas.. — digo, pego Miguel do seu colo rapidamente. — não faz mais isso com a mamãe tá legal? — repreendo ele que agora faz um biquinho. — obrigado. — aceno para Andreas.

— Volta aqui — ele me puxa pelo braço, chocando nossos corpos. — Tem noção do quanto que procurei você! — ele aponta o dedo em meu rosto e eu permaneço em silêncio. — feito um idiota atrás de você e... Caramba, não sei se fico feliz por te encontrar ou se fico com raiva de você por tudo.

— Eu tive meus motivos. — aperto cada vez mais Miguel em meu colo.

— Sabia que eu tenho quatro anos? — Miguel sorri para ele fazendo o quatro com a mão. Assim ó.

Um silêncio se estabelece entre nós dois. A fala do pequeno tagarela mudou todo o roteiro da nossa  conversa.

Meu coração vai ficar pequeno quando Miguel entender que Andreas é seu pai. Eu desconfio que as almas sentem.

— Me desculpa. — deixo algumas lágrimas rolarem. — eu ia te contar sobre o Miguel.

— Quando eu vi essa criança senti mesmo algo tão diferente... Lembrei de você. Ele tem suas covinhas. — ele sorri.

— Miguel — chamo meu filho. — esse é o Andreas, seu papai.

Tanto eu como Andreas estamos emocionados.
A gente não planejava o Miguel e muito menos todos esses anos distantes. Mas foi necessário para nossa história.

Eu me permito me apaixonar de novo por ele. E em outras vidas se possível.

A nossa história foi cheia de tormentas, mas hoje posso olhar  o porta retrato com a foto da nossa família: Mavi, Cecília, Miguel, eu e Andreas. E me conformo e agradeço, o tempo é sábio e o amor é coisa de gente corajosa.

E por último e não menos importante: Eu amo você completamente Andreas Pereira e quero prestigiar o resto da minha vida com você.

The End

𝐇𝐢𝐥𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭 ² • 𝐀𝐧𝐝𝐫𝐞𝐚𝐬 𝐏𝐞𝐫𝐞𝐢𝐫𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora