Capítulo 8

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Como de costume o herdeiro retirava-se do grande salão com uma carranca estampada no rosto. Mais uma vez o velho rei, seu pai, defendia o mais novo com unhas e dentes. Toda a sua vida o havia desprezado e feito sentir inferior, mas tudo piorou com o dia em que o velho havia trazido o seu bastardo para viver no castelo. E como se não fosse o bastante todos o admiram.

Não há um dia em que não ouça elogios em relação ao seu meio irmão.

Elogios sobre a sua aparência, sobretudo por parte de mulheres mas até mesmo por parte de outros homens. Elogios sobre a sua inteligência e habilidade de combate. Elogios sobre a sua habilidade de liderança, chegando mesmo a ouvir que Ezequiel deveria ser o próximo a sentar-se no trono e que todas as suas qualidades, que não eram poucas, disfarçavam o facto de ser um bastardo.

Toda a sua vida Karl havia tido uma grande pressão sobre si, por ser o filho mais velho, por ser o herdeiro ao trono. Mas ao contrário do irmão jamais havia sido um bom combatente, era de facto um melhor leitor, por conta da sua mãe havia sido ensinado a valorizar conhecimento e não força.

Após a morte da sua mãe, com quem era muito próximo, o seu pai exigiu que este se esquecesse de livros, dizendo que ler era para mulheres, e que iniciasse os seus treinos de combate. Infelizmente para ele e para infelicidade do rei, o seu professor foi pessoalmente dizer ao rei que o seu herdeiro não tinha vocação ou talento para o combate, a partir daí o seu pai passou a desprezá-lo, falando com ele apenas o necessário.

Após a chegada do irmão, todo o carinho e atenção do pai foi dada exclusivamente a Ezequiel. Ao ver que o seu pai o ignorava, sem fazer qualquer tipo de esforço para disfarçar, cresceu a desprezar tudo e todos, inclusive a si mesmo.

Apenas se sentia valorizado por si mesmo, mas só quando fazia os outros a seu redor sentir-se desconfortáveis. Sempre que tinha chance de arranjar confusão agarrava-a com toda a força, quase de forma desesperada, como alguém sedento em frente de um copo de água. 

Tirando essas alturas a outra coisa que o fazia sentir-se validado e capaz eram as suas caçadas. O que não tinha de habilidade de combate, tinha de caçada. Ele adorava, estar com apenas alguns homens nas colinas durante um dia á espera do momento ideal, apanhar a sua presa quando esta menos espera, matar o animal e levar o seu corpo de volta ao castelo para ser servido como refeição. 

Todo o processo, todo o tempo e o momento davam-lhe um enorme sentimento de poder e validação. Nos seus dias de caçada todos os incómodos desapareciam, a sua raiva e ódio pareciam diminuir, até mesmo desaparecer.

Ezequiel: O Meu Bravo Cavaleiro ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora