Tudo lá fora estava insuportávelmente barulhento, desde gritos de guerra e agonia ao som estridente de espadas que se chocam entre si.
Alguns gritos bem próximas despertaram o rei, eram bem próximas de onde este estava, literalmente do outro lado da porta.
"A morte veio por mim." - pensou enquanto levava o copo de vinho até aos lábios.
O som chocalhado das pesadas chaves metálicas fê-lo focar a sua atenção nas portas do grande salão.
Mal as portas são abertas, um grupo de quatro homens entra de espada em punho, um último homem entra, Karl. O rei apenas o encara soltando um longo suspiro desanimado por ver o filho numa situação destas.
- Karl... - suspira.
- Tranquem a porta! Fiquem atentos! - ordena vendo-os acentir e obdecer.
Os seus olhos cruzam-se com os do seu pai. Longos segundos de silêncio constrangedor instala-se no lugar, ninguém sabia o que dizer.
- Estás feliz? - pergunta Karl, já cansado do silêncio.
- Feliz!? - indaga confuso. - Feliz com o quê Karl? Contigo a trazeres uma guerra para o reino? - pergunta sarcástico.
O príncipe dá-lhe um olhar profundo, com um misto de emoções. Raiva, indignação, ressentimento.
- Tudo isto podia ter sido evitado pai. - diz aproximando-se do trono.
- Podia? Então diz-me filho, como podia isto ter sido evitado? - pergunta encarando-o.
- Se tu me tivesses respeitado e tratado como um pai e um rei deve tratar o seu primogénito e herdeiro, tudo isto podia ter sido evitado! - responde num tom baixo, mas de claro ressentimento.
O rei preparando-se para falar, encara o filho vendo que ainda tinha mais coisas para dizer, remetendo-se assim ao silêncio.
- EU SOU O TEU FILHO MAIS VELHO! O TEU PRIMOGÉNITO! - grita irritado. - O TEU AMOR E ORGULHO DEVIA SER PARA MIM, TAL COMO A TUA COROA...
- Karl... - tenta chamá-lo á atenção, mas o filho não lhe dá oportunidade, continuando o seu discurso.
- MAS TU SEMPRE PREFERISTE AQUELE BASTARDO! UM BASTARDO! - grita. - SEMPRE ME DIMINUIS-TE, HUMILHAS-TE E REJEITASTE- SEMPRE DEIXAS-TE MUITO CLARO QUEM É O TEU PREFERIDO. - grita furioso.
- Eu também te amo Karl. - diz levantando-se e andando até ao filho.
- Então porquê? - pergunta com certa curiosidade.
- Eu nunca fui o melhor pai ou o melhor rei. Mas amo os meus filhos. - diz colocando a mão sobre o seu ombro. - Mas a minha decisão foi em nome do bem do reino. - diz encarando-o olhos nos olhos.
Sem o rei se aperceber, Karl alcançou a pequena navalha na parte de trás do seu cinto.
- Responde-me muito honestamente, e não te atrevas a mentir-me. Qual dos dois amas mais? A mim ou ao bastardo? - pergunta com voz baixa.
- Eu amo os...
- Eu disse para responderes honestamente! - interrompe.
O rei suspira, um suspiro fatigado. Encarando o filho olhos nos olhos, finalmente sente vontade de admitir a verdade. - O Ezequiel! - responde. O Ezequiel é o meu preferido. - responde solta um outro suspiro de fatiga.
Karl baixa a cabeça, olhando para os próprios pés. - Eu lamento muito filho. - suspira.
O príncipe levanta a cabeça olhando nos olhos do pai. - Eu não lamento nada. - suspira.
Antes que o rei pudesse dizer ou fazer algo, uma lâmina fina e rápida como um relâmpago perfura a sua barriga.
- Obrigado. - suspira vendo a vida começar a esvair-se dos olhos do pai.
- Meu senhor. - ouvindo um dos seus homens chamá-lo retira a lâmina da barriga do pai, fazendo-o cair no chão, segurando a barriga enquanto solta gemidos de agonia. A sua coroa rola pelo chão parando a alguns centímetros de distância.
- O seu irmão percebeu a estratégia e vêm nesta direcção. O que fazemos? - pergunta.
- Está na hora da retirada. - diz vendo-os acentir.
- Mas e o trono? Tudo isto para nada? - pergunta o soldado atrás de si.
Sem pensar duas vezes, vira-se para trás espetando a mesma lâmina que havia usado no pai no pescoço no soldado, que imediatamente cai morto aos seus pés.
- Vamos embora. - diz guardando a arma no seu cinto.
Todos se retiram de imediato, para evitar passar por Ezequiel e pelos seus soldados, todos correm na direção da cozinha por onde poderíam fugir sem serem vistos.
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Ezequiel: O Meu Bravo Cavaleiro ✔
RomanceNum casamento infeliz, a jovem Missa apaixona-se pelo filho bastardo do seu marido ao que é retribuida. Assim os dois vivem um amor secreto e proíbido.