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St. Albert, 2015

O cheiro úmido de ferrugem, sujeira, suor, vômito e necessidades fisiológicas tomava conta do ambiente. Mas ninguém parecia se importar com aquilo; após meses e até mesmo anos presos num lugar como aquele, era comum as pessoas se habituarem ao odor e estilo de vida que lhes eram oferecidos.

Sem luxo, sem atenção, sem nada. Era assim que aquelas pessoas viviam seu dia a dia por anos; abandonados por suas famílias e amigos, sem esperanças de um dia voltar a ver a luz do dia.

E convenhamos, a maioria não tinha a menor condição de ser liberado.

Afinal, mesmo que você venha parar num lugar como esse injustamente, com algum tempo assistindo tudo o que acontecia ali você se tornava um deles rapidamente.

Esse era Josh. Há dezessete anos não sabia o que era uma vida normal. Mal se lembrava da sua própria vida antes de chegar aqui. Ele tinha sua própria cela, e era lá que ficava na maior parte do tempo. Não gostava  daquelas pessoas, nunca nem havia tido uma conversa descente com algum deles. A única vez que saía daquela espelunca fedorenta era para andar até a sala do Dr. Collins, o psiquiatra do local. Algo que era feito mensalmente, as vezes nem mesmo era feito. O Dr. Collins não dava muita atenção aos seus pacientes.

Aliás, nenhum dos funcionários dali davam a mínima para as pessoas. Porque a verdade era, que quem estivesse ali, naquele maldito lugar, dificilmente teria a chance de sair pela porta da frente com a possibilidade de declarar estar curado e bem para seguir com a vida.

Não era uma clínica, afinal. As pessoas não eram tratadas; elas eram controladas. Mantidas presas e escondidas do mundo, para que o resto da população não corresse os riscos que corriam quando estavam à solta.

Mas não Josh.

Josh era só um garotinho quando foi internado. Não entendeu absolutamente nada que aquelas pessoas lhe diziam, ou o que ouvia sua mãe dizer enquanto chorava desesperadamente tentando mantê-lo por perto. Josh tinha uma inocência raramente encontrada, e a mesma fora lentamente corrompida enquanto o tempo passava dentro daquela cela mofada.

Trocou de andares múltiplas vezes, afinal fora internado quando tinha apenas sete anos, e então habitava a ala infantil. Quando completou quinze anos, fora transferido para a ala adolescente, onde conheceu pessoas mais esquisitas do que ele mesmo, porém a esse ponto o garoto já estava consideravelmente perdido em si mesmo. Ao completar dezoito anos, portanto, foi transferido para a ala adulta; a ala mais cheia e comprovadamente a mais perigosa.

Nada é tão assustador do que homens adultos, coroas, velhos e idosos, chorando e rindo ao mesmo tempo, gritando, socando as paredes ou até mesmo batendo com a cabeça nos blocos da parede nas celas. Nem mesmo crianças com sorrisos maléficos ou  adolescentes com cicatrizes horrendas pelos braços e um histórico de dar medo.

Josh sempre soube que jamais pertencera ali, mas logo entendeu que também não sairia mais do lugar, e estava destinado a ficar ali pelo resto de sua vida. Cercado por loucos, psicopatas, assassinos, viciados, e tudo o que poderia imaginar de ruim. Estavam todos naquele lugar. Todos cercavam Josh.

A inocência de Beauchamp, que fora corrompida cedo demais, já não habitava sequer uma parte do corpo do menino. Seus olhos foram abertos para a realidade – a sua realidade. Ele era um psicopata.

Josh Beauchamp era um psicopata e merecia estar preso onde estava.

Nada o amedrontava. Josh encara todo e qualquer sujeito que o peitasse naquele lugar. O que acontecia com muita frequência, obviamente. Era tudo sobre dominação. Todos queriam liderar a todos, mas todos temiam a uma só pessoa.

Madness || N. BOnde histórias criam vida. Descubra agora