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Dois dias antes...

“Não há muito o que fazer” ele disse “Esse estabelecimento não fornece tantos meios de tratamento, e bem, o garoto não é dos mais dispostos”

“Não importa, você tem que tratá-lo” Úrsula falou, seu tom de voz maternal passava longe dali, a mulher soava quase ameaçadora “Ele não pode voltar para casa” suspirou “não desse jeito”

“Ele jamais voltará para casa, Sra. Dawkins” Úrsula assentiu pesadamente “Eu sinto muito mas o caso dele não apresenta melhora alguma, muito pelo contrário. Temo que nunca poderei liberá-lo” o Dr. Collins soava amigável e até mesmo misericordioso, porém todos que trabalhavam com ele, conheciam o homem bem o suficiente para dizer que ele não era uma boa pessoa. Mas também não era uma pessoa ruim.

“Eu sei” ela respirou fundo “Eu sinto falta do meu filho”

“A senhora nem mesmo conhece seu filho” ele murmurou, e acabou soando um pouco mais rude do que desejava, atraindo um olhar duvidoso e triste de Úrsula “Sinto muito, mas como um psiquiatra devo alertá-la que a senhora sente falta de uma pessoa que infelizmente não existe mais” ele explicou “Ele não é mais a mesma pessoa, Sra. Dawkins. Josh mudou, ele cresceu e seu estado mental apenas piorou”

Úrsula não entendia como aquilo poderia acontecer. Seu filho estava em boas mãos, não estava? Pelo menos foi o que os policiais indicaram quando seu filho foi detido naquela escola há anos atrás. Parecia um local de um filme de terror, mas Úrsula apenas imaginou que todos os manicômios – e era muito estranho dizer esse nome – eram assim.

Ela também não fazia ideia de como seu filho poderia apenas piorar se estava sendo tratado e bem cuidado. A mulher não fazia ideia do que havia sido feito para seu menino, e em sua mente fechada e ingênua, Josh era apenas um louco psicopata que tinha algum problema mental desde que nascera. Ela deixou de acreditar na inocência do garoto há muito tempo atrás. Inclusive, esse deixou de ser sua maior preocupação.

Ninguém nem mesmo lembrava mais o porque Josh estava ali. Nem mesmo mencionavam o fato de que ele era acusado de ter colocado fogo em uma sala de aula e matado aproximadamente sete crianças e deixado uma professora com um sistema imunológico totalmente afetado e doenças permanentes nos pulmões e cérebro.

Ninguém havia lutado pelo direito de defesa do garoto, nem mesmo tentado defendê-lo. Quando Josh foi obrigado a depôr algumas semanas após o ocorrido, ele nem mesmo sabia o que dizer. Quando lhe era perguntado, o garoto mal conseguia falar, afinal suas memórias estavam danificadas pelo tempo que ficou desmaiado naquele lugar, porém ele tinha certeza absoluta que era inocente. Mas talvez o Josh Beauchamp de hoje em dia não se lembre mais de sua inocência, e talvez tivesse finalmente aceitado o fato de que ele era, sim, um psicopata assassino.

Atualmente...

Um Josh ofegante sorriu fraco antes de esticar seu braço até a cômoda ao lado da cama e retirar de lá o maço de cigarro que estava no fim. Ele acendeu um cigarro e tragou de leve a fumaça, sentindo seus pulmões se enchendo e a sensação de tranquilidade o consumindo.

Noah deitou-se ao seu lado, também ofegante, com os olhos lacrimejando e as bochechas coradas. Os lábios rosados estavam umedecidos e inchados, e Josh passou o dedo indicador e o polegar no canto da boca do menino para limpar o que escorria discretamente por ali, levando à sua própria boca depois. Noah revirou os olhos e respirou fundo antes de tomar o cigarro da mão do garoto e dar uma tragada curta e devolver para Josh.

O orgasmo recente deixou Josh quieto por alguns instantes, o único som presente ali era o de sua respiração pesada e o de seus lábios entreabertos dispensando a fumaça do cigarro. Ele olhou para o lado, observando Noah com o braço sobre os olhos e os lábios prensados em uma linha fina. Ele parecia estar sofrendo e então Josh olhou um pouco mais para baixo.

Madness || N. BOnde histórias criam vida. Descubra agora