Madness || N. B

08

Boa leitura!

“Sonho?” a voz baixa do Dr. Collins soou no ambiente. Noah não o encarava, seus olhos estavam direcionados para o chão, onde seus pés batiam impacientemente contra o carpete sujo. Já se passaram três noites desde que Urrea tivera aquele sonho, e ele continuou tendo por todas as noites desde então. Parecia algo que um psiquiatra gostaria de ouvir, então porque não contar?

“Pesadelo, talvez” murmurou vagamente. Ouviu o barulho do correr da caneta pelo papel grosso do bloco de notas do Dr. Collins, e fechou os olhos, respirando fundo. Não havia nada que o irritasse mais do que aquilo.

“Três noites seguidas, hum?” o doutor perguntou, mas era uma pergunta retórica, e Noah não iria responder de qualquer jeito. “Como você se sente ao acordar desses sonhos?”

“Pesadelos” Noah resmungou, revirando os olhos e finalmente encarando o doutor sentado a sua frente “Não sinto nada, não é algo novo para mim” mentiu.

“Noah,” o doutor suspirou, fechando o bloco de notas e o colocando de lado antes de se inclinar para frente e apoiar os cotovelos nos joelhos, as mãos correndo pelos cabelos e então pelo rosto antes de entrelaçar os dedos e encarar Noah “eu preciso ter um diagnóstico correto, e para isso precisamos dialogar. Por favor, me diga como realmente se sentiu ao acordar desse pesadelo?”

Urrea sorriu em deboche, um sorriso carregado de humor e insolência. Ele não sabia como tirar aquele homem do seu pé, na verdade, sabia que era impossível, ele fora internado ali por uma razão, e não só para ser jogado em algum lugar pior do que a cadeia para que pudesse pagar por seus pecados. O homem suspirou novamente, mostrando não estar nem um pouco ameaçado pela expressão de Noah.

“Sr. Urrea” o Dr. Collins pediu mais uma vez, e Noah riu baixinho.

“Eu acordei um pouco desnorteado, mas foi só isso. Passou logo” comentou. Seu tom transbordava deboche, era como se estivesse rindo do doutor sem realmente rir. Ele não precisava contar que tivera um ataque de asma assim que acordou, ou algo que o doutor provavelmente tentaria lhe convencer de que era um ataque de pânico, são bem parecidas e quase a mesma coisa, na verdade.

“Quero que venha me contar todas as manhãs após esses pesadelos. Sei que só nos vemos uma vez por semana, mas gostaria que me informasse todas as vezes que voltar a sonhar com isso, tudo bem?” sugeriu. Noah não disse nada, apenas resmungou qualquer bobagem e se levantou, indo até a porta. O Dr. Collins sabia que não deveria tentar impedi-lo de ir embora, então apenas assistiu enquanto o garoto fechava a porta atrás de si.

-x-

Assim que entrou na cela, encostou-se na porta de ferro e suspirou, revirando os olhos. Ignorar o olhar obsceno e nojento de Steve foi um pouco complicado, e Noah teve que fingir não ter notado para conseguir ir para seu quarto em paz. Mesmo que soubesse que só precisaria fazer alguma coisa caso quisesse algo em troca, ainda sentia-se um pouco inseguro, afinal Steve tinha certa autoridade sobre si, e ele carregava armas como o cassetete e uma arma de choque. Não era possível vencer uma luta com ele, o único jeito era ceder. E ele não queria ceder.

“Dia ruim?” ouviu uma voz rouca perguntar. Abriu os olhos e encarou Josh, parado perto da pequena janela no alto da parede, soprando a fumaça por entre seus lábios. Noah não respondeu, apenas andou até sua cama e sentou, apoiando o rosto nas palmas das mãos e suspirando novamente.

Sentiu uma cutucada em seu ombro e ergueu a cabeça, apenas para encontrar Josh estendendo o maço de cigarro para ele, que negou com a cabeça. Havia, mais uma vez, acordado com um pequeno ataque de asma, ou de pânico, como os doutores chamariam. De qualquer maneira, não ousaria mexer com seus pulmões que ainda estavam um pouco fracos.