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“Como assim não encontraram o garoto?” A mulher exclamou, fazendo o doutor fechar os olhos em irritação por um momento “Primeiro deixam ele fugir de um dos manicômios mais seguros do país, e agora quer que eu acredite que não conseguem encontrá-lo?” debocha. O doutor observa sentado, com o queixo apoiado na mão, a mulher andando de um lado para o outro em sua sala escura e pouco aconchegante, o salto alto batendo contra o piso de madeira irritantemente por toda a sala.

“O Alex foi encontrado, você sabe disso. Ele estará na clínica até amanhã cedo sob meus cuidados” informou. “E aquele lugar está longe de ser o mais seguro do país” Collins murmurou.

“A mídia desconhece esse fato,” observa Meredith “para o mundo do lado de fora daquele muro, aquele lugar é um paraíso de reabilitação. E vocês deixaram quatro pacientes escaparem. Quatro!” exclama, inconformada. “Como posso defender você judicialmente se permite que um garoto condenado à eternidade fuja, num estado deplorável, moribundo e acabado?”

“Eu não permiti coisa alguma” rosnou Collins “ele teve ajuda dos outros três, que pareciam bastante conhecedores de habilidades para essa fuga. Um deles inclusive,” Collins levantou um dedo, como se indicasse que a mulher deveria parar e prestar atenção “foi parar lá justamente por seu histórico de fugas em manicômios anteriores”

Meredith soltou uma gargalhada assombrosa, que trouxe arrepios por todo o corpo de Collins.

“E você acha que isso é algo que eu falaria para um juiz com a esperança de ser levada a sério? Collins, isso é motivo de vergonha!” ela grita, voltando ao seu lugar atrás da mesa de vidro “Como posso defender um lugar que não toma conta de um paciente com histórico de fuga?”

Collins não soube responder, apenas suspirou, exausto. Os dias de trabalho naquele lugar estavam acabando com ele, principalmente pelo tempo que precisava passar com a polícia, detetives e autoridades em geral, dando depoimentos sobre as personalidades doentias dos pacientes fujões e numa luta sem fim para ter que liberar seus diagnósticos, que graças à um mandato judicial, ele não teve outra opção a não ser abrir mão de seus arquivos.

“O que consta naqueles arquivos?” Meredith perguntou, agora mais calma enquanto abria o notebook e digitava alguma coisa “Você não me contou os diagnósticos dos garotos, preciso saber exatamente com o que estou lidando, Collins”

O homem assentiu, respirando fundo antes de ajeitar sua posição na cadeira e passando a mão em sua barba áspera.

“Urrea sofre com Transtorno Esquizoafetivo; que nada mais é do que uma mistura dos transtornos bipolares com esquizofrenia. É um caso bastante sério, e o caso dele não fica para trás. Sua patologia é séria e eu pretendia começar um tratamento intensivo quando ele fugiu” enquanto Collins falava, a mulher digitava sem parar, provavelmente marcando tudo o que o homem falava, e ela levantou o olhar para encará-lo, indicando que ele continuasse.

“Ele também sofre com delírios. Um transtorno delirante; ele tem pensamentos, ideias e sonhos com coisas que aconteceram, com adições de acontecimentos que não chegaram a ocorrer em lugar algum além de sua própria mente. É algo perigoso pois se o delírio for o suficiente para trazer memórias indesejadas à superfície, pode despertar o transtorno bipolar e ele pode ferir alguém seriamente, como já aconteceu antes” murmurou a última parte; mesmo estando com sua advogada, sua mente insistia em manter o sigilo de medico/paciente, ainda que já não houvesse mais sigilo algum, afinal as autoridades tinham seus arquivos.

“Esse é o garoto que assassinou o padrasto e o cunhado, não é?” confirmou, e Collins assentiu. Meredith digitou um pouco mais e então estralou os dedos, encarando o doutor com um sorriso sarcástico no rosto “E Josh Beauchamp?” perguntou “Qual é o diagnóstico desse garoto tão curioso?”

Madness || N. BOnde histórias criam vida. Descubra agora