Os dias se passavam diante de Sayuri. A mesma esticava como um bambu. Continuava extrovertida, aventureira, teimosa e brilhante. E além de tudo, feliz. Às vezes as lembranças de uma certa pessoa batia na porta de seu coração. Ela deixava-a entrar, mas para uma visita breve. Não podia deixar-se abalar por tais sentimentos, que a levava para um cômodo melancólico e triste do seu peito. Tais pensamentos e saudades não deveriam afeta-la. Era o que Akira a estava ensinando:
–Dome seus sentimentos! –Advertiu-a. –Às vezes quando a mente não pensa, o coração fala mais alto. E isso é perigoso, minha filha!
–Por que, meu pai? –Perguntou curiosa ao pararem de frente a uma pequena cascata de água com metade de seu rio petrificado pelo o inverno. Ajeitou o pano de cor verde escuro em sua boca, que decaia com sua vestimenta marrom e musgo tampando seus pés.
–Quando a cabeça não pensa, o corpo padece! –Deixou-a mais em dúvida. –O breve momento que você age por impulso sentimental pode ser inteligente ou perigoso! É uma faca de dois lados e depende da situação! Mas o apropriado é sempre agir friamente com a mente, e controlar a raiva ou qualquer tipo de fúria!
–Mas se for uma situação de vida e morte, onde a pessoa importante para você foi morta ou se feriu? –Perguntou ao encontrar uma pedra grande onde se sentou para descansar.
–Aí vai ser seu extinto! –Sorriu serenamente. Seguiu para junto dela. Ajeitou seu kimono azul escuro juntamente com o pano preto do seu pescoço, que o esquentava do frio. Sentou-se na pedra e colocou a bolsa no chão, ao pegar uma pequena cabaça* de madeira.
–Extinto?
–Sim, como dos animais! O extinto leva-os a atacar quando se sentem ameaçados!
–E somos capazes de sentir isso?
–Sim, minha filha! –Confirmou ao levar a pequena jarra em formato de pêra aos lábios e tomar um gole de seu liquido.
–Como é? Sentir isso...
–É como um frio que vai do meio das costas ate o estomago! –Olhou para o horizonte a sua frente.
–Isso não é amor?
–... –Ele riu. –Quase igual. Contudo, esse sentimento é mais tenso que quando nos apaixonamos. Mas como sabe sobre amor? –Akira a olhou erguendo a sobrancelha esquerda com desconfiança.
–Mamãe contou algo parecido quando se apaixonou por você, papai! –Sorriu inocentemente soltando um pouco de fumaça dos lábios.
–Ah sim! –Riu novamente negando com a cabeça.
–Você também sentiu algo parecido?
–Por sua mãe? –Indagou-a e ela confirmou. –Sim, foi como se meu peito fosse atingido por uma flecha em chamas e queimasse todo o meu ser!
–Oh! –A menina ficou impressionada com as palavras. Sentiu seu coração quente ao lembrar-se do rosto de Kazuki. –Pai, você sempre amou a mamãe?
–Desde que a vi pela primeira vez! –Seu olhar brilhou ao sorrir de maneira boba segurando firme a cabaça. –Bem, seu tio também gostava de Madoka, mas como ele viu que nós dois estávamos completamente apaixonados. Ele preferiu sair do caminho!
–O tio Akihiro? –Surpreendeu-se.
–É, o tio Akihiro. Hoje em dia ele tem uma família maravilhosa! Tem uma bela esposa e três filhos fortes e saudáveis!
–Queria poder conhecer meus primos!
–Vou te dizer uma coisa, minha querida filha! –Começou calmo ao soltar uma baforada serena de ar e esfregou suas mãos enluvadas. –Sua tia Fumiko e seus primos estão doidos para vim aqui e te conhecer, só que meu irmão não tem tempo de trazê-los e além de tudo ele não confia em deixá-los vim sem o mesmo, por temer o caminho!
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KATSUO - O Lírio Branco Ato 1
RomanceA história se passa no Japão, no Período Edo. Encontrada no meio de cadáveres, um pequeno bebê foi salvo por um guerreiro-samurai chamado Akira Nomura após ouvir seu choro e levado consigo para sua casa para a felicidade de sua esposa Madoka Nomura...