Mais um ano havia se passado. Sayuri tinha decidido ficar mais um tempo com seu avô. Viu que o senhor de idade avançada, sentia-se solitário e depressivo na maioria das vezes. E com sua presença ali, ele passava a se cuidar mais e zelar por sua vida. Era o que Hana dizia, depois que sua esposa havia morrido. Arizawa deixou de lado tudo, até ele mesmo. Mas com a chegada de Sayuri muita coisa havia mudado. Agora ele saia mais para tomar sol ou para ensinar sua neta alguma coisa sobre armas ou batalhas com suas historias de velho guerreiro.
É nessa idade que o ser humano, sente-se mais frágil. Mais carente de atenção. Os jovens e os adultos almejam outras coisas. Sentimentos fortes e perigosos. Pressa. Ganancia. Mas os mais velhos, esses já viveram a vida e sabem muito bem o que ela proporciona. Se arrependem de ter corrido mais que as pernas e não ter vivido o que era mais importante, que era os laços de família e amizade. Correr tanto lhe cansa. Lhe esgota. E lhe entristece. É nesse momento, que é sempre bom parar, descansar, respirar fundo e ver o horizonte nem que seja por um minuto. Sayuri, ainda estava sem reação... Seus pés afundados em grãos amarelos e fofos. Ao mesmo tempo em que seus olhos de cor folha, tentava avistar tudo a sua frente. A imensidão sem fim de uma água que no começo com suas ondas era um transparente azulado e quando se distanciava era profundo e misterioso.
–Está gostando da vista, minha neta? –Perguntou o senhor de vestimentas de cor mar com chapéu de bambu e palha protegendo-o dos raios solares.
–Isso... –Estava sem palavras, enquanto sentia a brisa marítima soprar em seu rosto fortemente eriçando seus cabelos castanhos e ajeitava a sombrinha do mesmo material do chapéu, acima da cabeça.
–Isso é um presente de aniversario... –Ele se aproximou e colocou a mão em seu ombro esquerdo.
–Obrigada... –Ainda estava emocionada. Com olhos lacrimejantes tentando nem ao menos tirar os olhos daquela visão fantástica.
–Às vezes, quando sua avó era viva. Viajávamos até aqui para tentar encontrar um pouco de paz! E entender...
–Entender? –Ficou em duvida com as palavras.
–Sim, sua avó dizia, que nossa vida era como as ondas do mar! –E continuou. –Uma ida e vinda sem parar, podendo trazer algo inesperado das profundezas!
–Ah... –Ficou confusa. O vento balançou ambas as roupas.
–Eu não tinha entendido na hora assim como você, mas depois que ela partiu comecei a entender mais seus pensamentos... –Arizawa olhou-a e a mesma retribuiu. –... Nossas emoções são o mar, e nós somos como um barco de madeira frágil. Quanto mais o mar ficar revolto, mais o barco tem o perigo de ser destruído pelas as ondas! Não esqueça disso, minha neta!
–Não, vou... –Ela deu um sorriso. Era visível a diferença de altura. A moça, agora, estava ultrapassando o ombro dele.
–Vamos! –Arizawa sentou-se e sua neta fez o mesmo. –Você ouve isso? –Ele fechou os olhos e suspirou estava alegre.
–Sim! –Sayuri fez o mesmo. –O som do mar...
–Isso é como uma musica tocada num shamisen* de um jeito melodioso!
–Concordo, vovô! –E começou. –Eu realmente gostei da senhora Shinzaku. Ela toca muito bem aquele instrumento dela!
–Não, só ela... –Olhou-a esboçando um sorriso. –... teve um elogio dela por arrancar algumas notas na primeira explicação!
–Eu só observei bem, os movimentos dos dedos dela na corda do shamisen!
–A maioria dos instrumentos de corda, se dedica anos para que consiga fazer uma melodia boa para os ouvidos! E você na primeira vez fez isso!
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KATSUO - O Lírio Branco Ato 1
RomanceA história se passa no Japão, no Período Edo. Encontrada no meio de cadáveres, um pequeno bebê foi salvo por um guerreiro-samurai chamado Akira Nomura após ouvir seu choro e levado consigo para sua casa para a felicidade de sua esposa Madoka Nomura...