CAPÍTULO 3 Mais um Natal

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Era véspera de Natal novamente. Seis meses haviam se passado desde a visão das montanhas e do homem de cabelos compridos, um ano desde a primeira visão. As irmãs não tinham conseguido saber muito mais coisas sobre as visões. Algumas pistas aqui e outras ali. Nada concreto.

Alice já estava cansada. A cada visão que tinha, mais angustiada ficava a ponto de ficar obcecada. Entre descobrir o que as visões significavam e tomar conta do escritório no lugar do seu chefe, sua saúde tinha se deteriorado. Maria estava preocupada, seus amigos estavam preocupados. Quando não estava fazendo nem uma coisa nem outra, estava dormindo. Sabia que estava em um processo de depressão, mas sabia também que quando descobrisse o que fazer, tudo isso iria embora.

Jogou o lençol para o lado e saiu da cama. Precisava buscar as comidas que tinha encomendado para comer com Maria no Natal. Este ano seria como o ano passado, só as duas, mas desta vez ela não iria para a terra de seus pais ficar com a irmã. Este ano combinaram de passar a véspera do Natal na casa de Alice, em São Paulo.

Alice se arrumou e foi para a garagem pegar o carro. Estava bastante fácil dirigir pela cidade. A maioria dos paulistanos optava por viajar nesta época. Mesmo o escritório fechava entre o Natal e o Ano Novo. Todos iam viajar, inclusive Carlos com suas filhas.

Ela não. Alice gostava de ficar em São Paulo nos feriados. Gostava de aproveitar a cidade sem o trânsito, sem filas, com menos poluição. Deixava para viajar fora de época.

Antes de partir para sua viagem, Carlos entrou em seu escritório para conversar. Ele havia voltado definitivamente para o escritório havia 1 mês, após o tratamento do câncer. Antes disto ia apenas 2 vezes por semana. Alice cuidava de tudo no lugar dele e o fez com prazer. Principalmente depois da notícia de que estava curado. Isto fez todo o sacrifício valer a pena, mas aquela conversa não havia sido nada fácil.

Carlos veio com uma proposta de trabalho que seria irrecusável, se ela não estivesse no meio daquela bagunça toda. Ele queria que ela fosse sócia do escritório, mas Alice precisou dizer não. Carlos ficou muito decepcionado.

— Eu não posso aceitar, Carlos.

— Por que não?

— Minha vida neste momento está complicada. Eu talvez não esteja por aqui em breve.

— Eu não entendo, você vai trabalhar em outro lugar? Recebeu alguma outra proposta?

— Não é nada disto. Eu apenas não posso assumir este compromisso agora porque vou precisar viajar.

— Você quer tirar férias?

— Não é bem isso. Olha, se lembra quando eu te pedi para procurar o médico e disse que precisava confiar em mim?

— Como eu posso esquecer? Você salvou minha vida.

— Eu preciso desta mesma confiança. Tem coisas que eu não posso te explicar, você precisa confiar em mim.

— Alice, eu te devo minha vida. Não há nada que eu não faça por você. Quando você vai viajar?

— Ainda não sei. Digamos que estou esperando que uma coisa específica aconteça antes.

Carlos pensou por um minuto e depois falou.

— Não vou te fazer perguntas, mas sei que você tem algumas habilidades...digamos... especiais. Não precisa me responder e nem se dê ao trabalho de negar. Acha que eu não reparei em você por todos estes anos? Acha que não sei quando você sabe o que vai acontecer, antes que aconteça? Foi por isso que fui ao médico. Eu aprendi a confiar em você. Aprendi a nunca duvidar de algo que fala. Primeiro porque você é a pessoa mais honesta que eu conheço, segundo porque sei que pode prever o futuro. Não negue e não se preocupe, nunca falei nada para ninguém, nem para minhas filhas.

Olhos Amarelos (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora