17• Promessa

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Acordei ao lado de Maya que ainda dormia tranquilamente. Quase não estava parando em casa, então ontem decidi que era melhor um tempo sozinhas longe de toda aquela gente. Fiz minhas necessidades matinais e desci as escadas percebendo como minha casa era vazia mesmo tendo coisas demais. Tinha poeira em todos os cantos mas eu nem estava ligando para isso, hoje é o dia que eu mais odiava quando alguém importante para mim partia. Lembrei da noite que eu, Tae e Maya comemos pizza, assistimos filme e depois os dois capotaram no sofá. Queria tanto voltar naquele momento e dar pausa ali mesmo.
O dia estava nublado, o céu estava cinza prendendo o sol por trás das nuvens e se recusando a deixá-lo brilhar. Não conseguia comer nada desde ontem, mal bebia água, não sei como ainda tinha forças para parar em pé. Eu me sentia completamente vazia e fraca por dentro.
- Bom dia, prima. - Ouvi a voz sonolenta de Maya descendo as escadas e me tirando do meu devaneio.
- Bom dia.
- Você já comeu?
- Não, mas pode preparar algo só para você, não estou com fome. - Falei sentando no sofá e pegando meu celular vendo uma mensagem da Joey.

- Quer que eu busque vocês duas?

-  Não, obrigada. Pode indo na frente.

Fechei meus olhos com força sentindo mais uma dor, não tinha nada que eu pudesse tomar para tirar essa dor infernal da minha cabeça.
- Toma. - Maya me entregou um comprimido e um copo de água.
- Eu já tomei essa merda e não funciona.
- Toma mais até melhorar e tenta comer algo..
- Eu vou me arrumar. Precisamos nos apressar, porque já está quase na hora. - Interrompi ela e subi para meu quarto.
Coloquei uma calça jeans, uma blusa preta de manga comprida e meu sobretudo, por fim minha bota. Fiz tudo em modo automático, porque se eu parasse por mais de 5 minutos eu acabaria me entregando a tristeza. Esperei Maya no andar de baixo e finalmente estávamos prontas.

*Coloque a música- To Build a Home- The Cinematic Orchestra*


Nunca gostei de ir no cemitério, principalmente encontrar alguém que eu amava lá. Eu me sentia pequena como uma criança naquele jardim cheios de túmulos com vários e vários nomes de pessoas desconhecidas. Tá, que eu mandei algumas pessoas más para esse local mas não compara quando é comigo. Hipocrisia a minha, não é?
Maya segurou forte minha mão e me puxou levemente para eu começar a andar. Eu não conseguia me mexer, não conseguiria vê-lo naquele caixão.
- Vai. - Falei para Maya que me olhou espantada. - Por favor.
- Você tem que se despedir, é por ele, Yana.
- Não vou conseguir. Faça isso por nós duas.
- Não, Yana.
- Vai. Eu ficarei aqui. - Eu estava decidida. Ver o Tae novamente me faria ficar vulnerável e não queria isso, eu precisa de forças para achar o verdadeiro culpado por esse sofrimento.
Maya andou para perto do toldo azul aonde todos estavam, vi Yoongi chegando para perto da mesma e a abraçando. Logo depois vi um senhorinha se levantar e abraçá-la aos prantos, depois olhou para mim, e mesmo de longe conseguia sentir o peso do seu sofrimento. Quando um filho perde os pais, vira órfão. Uma mulher perde seu marido, vira viúva. Mas quando uma mãe perde um filho, não a chamam de nada, porque nada descreve o sentimento que a mãe sente ao perder uma parte que nasceu de dentro dela, como sua metade. E isso dói ainda mais quando você parava para pensar.

Minutos depois vi de relance o caixão sendo fechado e os coveiros abaixando de pouco em pouco para debaixo daquela terra, aonde ninguém mais veria o rosto radiante do nosso Tae.
Agora a chuva caia fininha, apenas refrescando as flores. Os raios do sol apareceram cortando as nuvens e fazendo um lindo pintado no céu.
- Você deveria ter ir lá. - Olhei para frente e encontrei a senhorinha de antes.
- Olá, sou a Yana. - Me curvei com respeito.
- Eu sei. Ele me falava muito sobre você. - Ela sorriu. - Tae chegava animado em casa toda vez que se encontrava com vocês e passavam a tarde juntos.
- Você é a mãe dele?
- Sim. - Engoli em seco. - Não precisa ficar assim, filha. Vem comigo. - Estendeu sua mão e eu hesitei em pegá-la.
- A senhora não me conhece.
- Não, mas você fez os dias do meu filho os mais felizes que ele já teve. - Segurou minha mão e me levou para perto do túmulo agora fechado e com a plaquinha de prata com o nome do Tae escrito. Ela me entregou uma violeta roxa e se ajoelhou comigo. - Obrigada, Yana. - Atrás de mim eu podia ouvir o choro de algumas pessoas, fazendo que aquele momento fosse ainda mais doloroso para mim. Eu não merecia nenhum agradecimento, mas ver a Senhora Bennet, a mulher que deveria me odiar, me tratando como uma amiga querida do Tae eu não conseguiria impedí-la. - Fale com ele. - Ela levantou e foi para o lado de seus 3 filhos e eu fiquei ali sozinha sem reação.

𝐍𝐚 𝐌𝐢𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐀𝐦𝐨𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora