6• Maya

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*Maya*

Quando você nasce em uma família cujo o sangue e a tradição é o mais importante, você perde. Eu, pelo menos, perdi pessoas que eu amava, perdi minha vida, minha inocência, minha pureza, não pense que só porque eu demostro para você ser uma pessoa gentil e fofa que eu realmente sou. Família vinda de máfia italiana, de assassinos e monstros, você não consegue ser alguém bom, nem mesmo se você tentar, você sempre volta as suas origens.

~Flashback on~

- Você não pode vender nossa única filha, Luca. Não vou deixar que isso aconteça. - Ouvia minha mãe gritar e chorar dentro do escritório. Eu tinha apenas 5 anos na época, e lembro bem como começou meu inferno.
- Não importa mais, Sara. Você quer que eles venham aqui e tire a vida de toda nossa família? Você quer ver o sangue da nossa filha pintado nas mãos deles? - Meu pai estava mais calmo, mas percebi sua voz trêmula.
- Você é um monstro, como você pôde? Ela não tem nada a ver com seu trabalho sujo.
- E você acha que eu queria está fazendo isso? Eu estou sofrendo também.
- NÃO, VOCÊ NÃO VAI LEVÁ-LA, EU NÃO VOU DEIXAR. - O grito de minha mãe foi estrondoso que me deu náuseas. Sai dali correndo e subi para o quarto da pessoa que eu sabia que me acalmaria.

Chegando perto do quarto de minha prima, vi um rastro de sangue saindo do quarto dela e indo em direção ao porão.
- Yana? Você está bem? Abre a porta, por favor. - Bati na porta em desespero. - Yana, responde. - Senti a mão de alguém no meu ombro.
- Ela não está bem nesse momento, Maya. Deixa ela descansar. - Tio Vin falou com sua voz serena.
- O que é esse sangue? - Perguntei. Uma criança de 5 anos vivenciando essas situações é um peso grande para o futuro dela.
- Não é nada. Agora volte para seu quarto. - Sai dali e fui para o meu quarto onde deitei e chorei em silêncio, porque não queria incomodar mais ninguém.

Acordei mais tarde com um barulho no andar de baixo. Corri para a escada e vi homens com roupas pretas, máscaras, pareciam vultos durante a noite escura. Fui de fininho para o escritório e não vi ninguém, subi novamente para o quarto da Yana e nada. Eu não podia está sozinha nessa casa.
- Ei, menina. Vem aqui. - Ouvi uma voz grossa me chamando e sai correndo para meu quarto, me escondendo debaixo da cama. - Bebê, pode vim. Não vou fazer mal a você. - Eu queria chorar, gritar, respirar, mas não conseguia. De repente veio um barulho de tiro no andar de baixo, que vez o homem sair ao encontro do som.
- Maya? Filha, sou eu. Pode sair. - Ouvi a voz da minha mãe e corri para a mesma, me agarrando no vestido dela e chorei, pedindo que aquilo fosse um sonho. - Calma, minha princesa. Vai ficar tudo bem. Você confia na mamãe? - Acenei com a cabeça e ela com suas mãos delicadas enxugou minhas pequenas lágrimas que escorriam. - Vamos procurar a Yana.

Saímos do meu quarto e abrimos devagar o quarto da Yana, onde a mesma estava encolhida no canto da parede, cheia de sangue, em choque. Seu olhar não estava ali, ela não estava ali.
- Yaninha, você está bem? Priminha? - Chamei e chamei e nada. - Fala comigo, por favor.
- Yana, o que aconteceu? - Minha mãe perguntou. Ela não se mexia, parecia que a Elsa tinha dado uma volta aqui e a congelado.
- ACHEI VOCÊS. - Um homem entrou e minha mãe foi pra cima dele. Começou uma briga horrível, eu só sabia gritar pedindo para eles pararem e chamar por Yana. Quando eu ouvi mais dois disparos, me fazendo paralizar. Yana se virou e me abraçou, virando meu rosto pro lado oposto da briga.
- Fica aqui, por favor. - Ela disse e eu assenti. Não vi mais nada, mas pude escutar outro disparo um aqui e outro no andar de baixo. Eu não queria me virar, mas a curiosidade foi mais forte e me virei. Yana estava com uma arma na mão apontada para o homem agora com um tiro na cabeça, minha mãe estava no chão ensanguentada mas ainda viva. Peguei a cabeça dela e coloquei no meu colo mesmo que pequeno.
- Mamãe. Mamãe, fica comigo. Por favor, mamãe. Não me deixe sozinha. - Sangue e mais sangue saia de sua barriga e agora ela tossia sangue. Eu estava desesperada, não sabia como salvá-la.
- Maya. - Ouvi Yana me chamando mais não liguei. Eu só queria minha mamãe viva e bem.
- Mamãe, mamãe eu estou aqui com a senhora.
- Maya, ela vai ficar em paz agora.
- Não, NÃOOOO. MAMÃEEE. - E ela se foi. Meu mundo acabou ali.
- Ma, vem comigo. - Yana pegou a cabeça da minha mãe do meu colo colocando um travesseiro por baixo e pegou minha mão.

Saímos devagar do quarto, desviando do corpo do homem morto. Não estava enxergando nada por causa das minhas lágrimas e da a escuridão, via apenas reflexos de algumas luzes entrando pelas janelas. Encontramos tio Vin, o tio Jin e tio Paolo ao lado de mais 5 corpos, nenhum sinal do meu pai.
- Como vocês estão? - Tio Jin perguntou.
- Estamos bem. - Yana disse.
- Cadê meu papà?- Perguntei baixinho.
- Não sabemos, linda. Mas vamos encontrá-lo.
- Onde está Sara? - Tio Vin perguntou pra Yana que logo respondeu.
- Está lá em cima, um dos homens atirou nela e eu o matei.
- Boa menina.

~Flashback off~

*Coloque a música- If Depression Gets The Best of Me- Zevia*

A partir daquele momento minha vida mudou completamente. Eu estava órfã, minha mãe morreu em minhas mãos, meu pai tinha sumido. Yana me abraçou e cuidou de mim como se a vida dela dependesse disso e eu me sentia culpada. Fiquei pensando se meu pai tivesse me vendido nada disso teria acontecido, minha mãe estaria aqui feliz e brincando comigo, mas tudo acabou.
A tradição de nossa família é claro: Com 12 anos você será oficialmente um Marino, com pacto de sangue, prometendo honrar e proteger sua família acima de tudo. Se matar fosse necessário, você iria fazer sem excitação. Yana foi Marino bem mais cedo e eu a acompanhei.
Observava dias e dias ela treinando com armas, facas, cordas, tudo que você poderia imaginar que podia ser fatal. As vezes ela quebrava a mão ou o pé, passava dias descansando e depois voltava. Como eu não tinha idade ainda eu observava e imitava os movimentos no meu quarto sozinha, imaginando todas as noites o homem que assassinou minha mãe na minha frente.

Cresci e virei uma Marino com 12 anos, o que preocupou demais minha prima. Tudo que eles iam passar para mim, eu já sabia mas me dei ainda mais. Com 13 anos tinha matado mais ou menos umas 6 pessoas, Yana tinha matado o triplo mas nem isso a abalou. Esse é o sangue Marino, sangue derramador de sangue. Hoje tentamos nos comportar de uma maneira que ninguém pensaria do que nós seríamos capazes de fazer, fomos treinadas para ser amável, dócil, uma dama, tímida e frágil.
Desde então, eu estive investigando sobre o sumiço do meu pai e o motivo daqueles homens terem invadido nossa casa, mas não tinha descoberto nada e isso me deixava ainda mais frustrada.
- Você sabe o que deve fazer. Agora tudo estará em suas mãos. - Ouvi tio Vin falar pra Yana antes dela partir pra Coréia. Eu sabia que ia ser algo perigoso e eu precisava dessa adrenalina. Fiquei perturbando uma semana pedindo e finalmente ele deixou.

(...)

Acordei desesperada com o pesadelo que sempre tenho com a morte da minha mãe. Olhei para os lados e vi que estava sozinha no escuridão da noite. Subi as escadas e fui para o quarto da Yana, abri a porta devagar e entrei. Ela estava dormindo profundamente, me ajoelhei ao lado de sua cama e peguei suas mãos quentinhas.
- Obrigada, priminha. Por sempre me proteger. Prometo que o que tiver que acontecer eu sempre vou está do seu lado. - Levantei e fui para meu quarto.
Estava sem sono, então desarrumei minhas malas e fui tomar um banho quente para relaxar meu corpo. Deitei em minha cama macia e eu poderia gritar de tão bom que era ela e lutei pra dormir um pouco mais.
Naquela mesma noite tive um breve sonho de eu mandando uma mensagem para minha mãe:

"𝐎𝐢, 𝐦ã𝐞, 𝐬𝐨𝐮 𝐞𝐮. 𝐄𝐮 𝐬ó 𝐪𝐮𝐞𝐫𝐢𝐚 𝐥𝐢𝐠𝐚𝐫 𝐞 𝐝𝐢𝐳𝐞𝐫 𝐪𝐮𝐞 𝐞𝐮 𝐭𝐞 𝐚𝐦𝐨 𝐞 𝐞𝐮 𝐬𝐞𝐢 𝐪𝐮𝐞 𝐢𝐬𝐬𝐨 é 𝐚𝐥𝐞𝐚𝐭ó𝐫𝐢𝐨, 𝐦𝐚𝐬 𝐞𝐮 𝐬𝐢𝐧𝐭𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐧ã𝐨 𝐝𝐢𝐠𝐨 𝐨 𝐬𝐮𝐟𝐢𝐜𝐢𝐞𝐧𝐭𝐞, 𝐞𝐧𝐭ã𝐨 𝐚𝐪𝐮𝐢 𝐞𝐬𝐭𝐨𝐮. 𝐄 𝐞𝐬𝐩𝐞𝐫𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐨𝐜ê 𝐞𝐬𝐭𝐞𝐣𝐚 𝐛𝐞𝐦. 𝐇𝐮𝐦, 𝐬𝐢𝐦, 𝐞𝐮 𝐭𝐞 𝐚𝐦𝐨 𝐦ã𝐞. 𝐎𝐤𝐚𝐲, 𝐭𝐜𝐡𝐚𝐮 𝐭𝐜𝐡𝐚𝐮."

𝐍𝐚 𝐌𝐢𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐀𝐦𝐨𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora