Capítulo 18

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Continuei a remexer nos papeis espalhados pelo tampo da mesa enquanto me tentava concentrar apenas na informação neles contida. Estava sentada no pequeno banco desconfortável há já algum tempo e as minhas costas estavam duridas.

Amanhã teríamos a nossa primeira missão, rever e decorar todos os pormenores era o que eu devia estar a fazer neste momento mas não o estava a conseguir. Tinha um pensamento que não me deixava em paz. Não conseguia tira-lo da cabeça e o que me mais me frustrava era porque não sabia porquê.

Não é lógico.

Não faz sentido nenhum.

Não entendo.

"Música sem Alma é a mesma coisa que humano sem emoções. Não passa de uma concha vazia sem interesse algum."

Não percebo o que Carter quiz dizer com aquilo. Era suposto ser uma observação? Uma crítica à minha música? A mim? Não percebo.

Durante 2 anos fui treinada a pensar logicamente e que isso me levaria a encontrar as respostas a qualquer pergunta que eu possa ter da maneira mais rápida e eficiente mas por alguma razão, o meu cérbero recusa-se a arranjar uma única explicação racional para me explicar o que ele disse.

Sei que nem sequer devia estar a prestar tanta atenção a uma coisa como esta pois afinal não tem importância mas algo em mim não estava satisfeito. Será que...

Não.

Rapidamente abanei a cabeça de um lado para o outro como se que a afastar os meus pensamentos. Não tenho tempo para pensar em coisas desnecessárias.

Voltei a virar toda a minha concentração para os papeis à minha frente e revi a missão na minha cabeça mais uma vez.

Não era nada de muito difícil. Tínhamos de interromper uma encomenda. Um grupo de soldados Alemãs chega amanhã à capital com uma encomenda importante. Só sabemos que é bastante importante e por esse motivo mesmo esta será trazida até à capital em segredo.

Um pequeno esquadrão da elite Alemã virá a proteger essa mesma encomenda. O nosso trabalho amanhã vai ser roubar a encomenda e eliminar os soldados. Talvez trazer um para interrogação mas isso depois vê-se.

Olhando para o despertador em cima da mesa reparei que já eram quase 8:15 e que o encontro seria às 9.

Levantei-me calmamente e arrumei todas as folhas espalhadas pelo quarto de volta na pasta onde originalmente estavam. Com a pasta nos braços, saí do quarto fechando a porta atrás de mim. Desci o corredor e fui em direção ao refeitório. No meu caminho até lá cruzei-me com mais pessoas do que hoje de manhã mas nenhuma delas pareceu dar pela minha presença enquanto que eu, tentei decorar todos os pormenores de todos que passavam por mim.

Quando cheguei ao refeitório reparei que estava cheio. Quase todas as mesas estavam ocupadas e havia poucos lugares livres. O barulho da conversa e o som dos talheres a baterem nos pratos enchiam a grande divisão de vida. Nem parecia que estávamos em guerra...

Fui rapidamente buscar a minha comida e procurei por um lugar livre. No meio da multidão encontrei Kaden sentado numa das mesas mais afastadas do centro com uma pasta igual à minha ao seu lado.. A mesa em que Kaden estava sentado estava encostada à parede e apesar de haver poucos lugares, ninguém se sentava perto dele. Quem se encontrava mais próximo de Kaden era um soldado que estava sentado a dois lugares de distância.

Sentei-me no lugar à frente dele e comecei a comer em silêncio. Sopa enlatada, um bocado de arroz com um pouco de carne e uma maçã. Mantive o silêncio por mais uns minutos até que falei enquanto olhava diretamente nos olhos azuis profundos, mortos e sem brilho de Kaden.

Dark and GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora