À tempestade, a cantiga e o navio.

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Baía Quarto Crescente litoral leste da Austrália.
Ano de 2505.

Quando o primeiro estrondo de trovão soou sobre a Baía Quarto Crescente, Park Chaeyoung abriu os olhos. Um clarão de relâmpago irrompeu atrás da cortina.

Tremendo, ela afastou as cobertas e foi até a janela do quarto, que havia se destrancado e estava escancarada, batendo ao vendaval como uma asa de vidro. Chaeyoung estendeu a mão para fechá-la.

Foi preciso algum esforço e a chuva a encharcou, mas conseguiu. Prendeu a janela mas deixou-a ligeiramente entreaberta — não querendo isolar a tempestade por completo.

Esta produzia uma música áspera com muitos rufos de tambor e pratos de orquestra estourando. Seu coração disparava de empolgação e de medo.

A água da chuva era gelada no rosto, no pescoço e nos braços. Fazia a pele pinicar. Do outro lado do quarto, Jimin ainda dormia — a boca escancarada, um braço pendendo na lateral da cama.

Como conseguia dormir com um barulho daqueles? Talvez seu irmão gêmeo tivesse ficado exausto de jogar futebol a tarde inteira.

Do outro lado da janela do farol, a baía estava sem navios. Não era uma noite para se velejar. O facho do farol varria a superfície do oceano, iluminando as ondas alvoroçadas.

Chaeyoung sorriu, pensando no pai lá em cima na sala da lâmpada, vigiando o porto, mantendo todo mundo em segurança.

Outro raio estalou e se dividiu do lado de fora da janela. Cambaleando para trás, Chaeyoung esbarrou na cama de Jimin. De repente o rosto do irmão se franziu e em seguida os olhos se abriram.

Ele olhou para cima com uma mistura de confusão e irritação. Ele espiou seus olhos verdes luminosos. Eram exatamente da mesma cor dos dela — como se fosse uma esmeralda partida em duas.

Os olhos do pai eram castanhos, por isso Chaeyoung sempre achava que eles deviam ter puxado à mãe. Algumas vezes, nos sonhos, uma mulher aparecia à porta do farol, sorrindo e olhando para Chaeyoung com os mesmos olhos verdes e penetrantes.

— Ei, você está todo molhado!

Chaeyoung percebeu que estava pingando água de chuva em Jimin.

— É uma tempestade. Venha olhar!

Agarrou o braço dele e puxou-o de sob as cobertas, arrastando-o para a janela. Ele ficou ali parado esfregando o sono dos olhos, enquanto outra veia de relâmpago dançava diante deles.

— Não é incrível? — perguntou Chaeyoung.

Jimin confirmou com a cabeça, mas ficou quieto. Mesmo tendo vivido todos os dias da vida no farol à beira do mar, nunca se acostumara com a força bruta do oceano — com a capacidade de, num momento, se transformar de um lago calmo num caldeirão violento.

— Vamos ver o que papai está fazendo — disse Jimin.

— Boa idéia. — Chaeyoung pegou o roupão na porta do quarto e se enrolou.

Jimin pôs um casaco com capuz por cima da camiseta. Juntos saíram correndo do quarto e subiram a escada em espiral até a sala da lâmpada.

Enquanto subiam, o ruído da tempestade ficava mais alto. Jimin não gostou nem um pouco, mas não diria a Chaeyoung. Sua irmã era bastante corajosa. Era estranho.

Chaeyoung era magra e ossuda como um ancinho, mas forte como uma bota velha. Jimin era fisicamente mais forte; mas Chaeyoung tinha uma força mental de aço, que Jimin ainda não havia alcançado. Talvez nunca alcançasse.

— Ei, olá! — disse o pai quando eles irromperam na sala da lâmpada. — A tempestade acordou vocês?

— Não, Chae me acordou — respondeu Jimin. — Eu estava no meio de um sonho muito legal! Ia marcar o terceiro gol numa partida.

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