O Festim

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Havia algo curiosamente tranquilizante na música que Chaeyoung ouvia com mais clareza quando saiu da cabine usando o vestido amarelo-claro. Sem dúvida, era um pouco comprido para ela - mas a srta. Kim havia mostrado como pegar o excesso e segurar na mão enquanto caminhava.

Enquanto seguia pelo corredor, vestida com mais elegância do que jamais conseguia lembrar, Chaeyoung sentia-se meio como uma noiva e meio como um animal a ser sacrificado. Mas mesmo assim os tambores repetitivos a acalmavam.

A srta. Kim tivera de deixá-la.

- Vampiros e doadores não entram juntos no Festim - havia explicado Lisa. - Os doadores chegam primeiro.

E assim Chaeyoung voltou a descer pelos corredores e escadas do navio, cada vez mais para as profundezas que havia explorado com tanta ansiedade mais cedo.

À frente dela os outros doadores saíam das cabines. De modo geral, pareciam homens e mulheres comuns, mas havia algo lânguido e indiferente neles, como se já estivessem sido drenados de sangue.

O que, claro, era verdade, semanalmente. Sem dúvida, isso tinha um preço - talvez todos terminassem como o pobre Nathaniel, pouco mais do que uma concha frágil.

Todos os doadores pareciam mais velhos do que ela. De algum modo isso lhe dava esperança - talvez ela fosse jovem demais para ser uma doadora decente. Apenas Hyun não parecia achar isso. E Chaeyoung continuou andando, tentando dar um sorriso nervoso para os outros.

Houve pouco tempo para perguntar a Lisa tudo que queria saber, depois da saída de Hyun. Mas, enquanto a srta. Kim se ocupava vestindo Chaeyoung, Lisa tinha dito que falaria com o capitão.

Não acreditava que o capitão tivesse mudado de idéia com relação a Chaeyoung - devia ser alguma tramóia de Hyun. As últimas palavras de Lisa a ela haviam sido para lembrar que, mesmo se fosse doadora, não sofreria um mal definitivo. Isso era questão de opinião, refletiu Chaeyoung.

Entendia que não seria morta - mas teria de dar parte de seu sangue para outra pessoa. Para Hyun, talvez. E, francamente, seria um destino muito melhor do que a morte?

Todos esses pensamentos foram postos de lado quando ela chegou ao último corredor e acompanhou os outros doadores que entravam na sala de jantar.

Era um espaço vasto, mais parecendo um elaborado salão de baile, iluminado com lustres de cristal, com uma longa mesa de banquete que se estendia à distância.

A mesa estava imaculadamente posta com toalhas de tecido adamascado, porcelanas, copos de cristal bisotado e brilhantes talheres de prata. Mas os lugares haviam sido postos apenas de um dos lados.

Foi para esse lado que os doadores se dirigiram, parando diante das cadeiras e permanecendo de pé, esperando enquanto a música polifônica continuava a tocar. Ao longo do centro da mesa havia uma comprida fila de velas acesas. Ninguém falava.

Então os vampiros chegaram. Cada vampiro, como Lisa havia explicado, era emparelhado a um doador, e agora cada vampiro procurava seu par. Quando o vampiro encontrava o local diante de seu doador e fazia uma reverência educada, cada par ocupava seus lugares.

Chaeyoung ficou olhando a srta. Kim chegar e localizar o homem que era seu doador. Fez uma reverência e deu um sorriso doce antes de sentar-se no lugar diante dele.

Logo depois Chaeyoung viu Lisa entrar na sala. Seu rosto ainda estava perturbado e os olhos azuis a espiaram ansiosos antes de encontrar sua própria doadora e fazer uma reverência formal para a jovem. As duas também se sentaram.

E a coisa prosseguiu. Cada vampiro examinava a extensão da mesa e repetia o ritual bastante educado. Chaeyoung pensou na exploração anterior do navio e em sua tentativa de contar quantos tripulantes haveria. A sala de jantar devia ocupar quase toda a extensão do navio, pensou.

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