Era tarde da noite quando o nadador se alçou no píer. Seus membros estavam meio cansados, mas ele sentia principalmente uma energia renovada e uma satisfação definitiva com o esforço. Estava com um nível de força sem igual em sua lembrança.
A mente corria tanto quanto a energia que borbulhava em cada célula do corpo. Ficou de pé e olhou de volta para o oceano escuro através do qual tinha viajado. Vira demais desse oceano. Era bom estar de novo em terra firme. Virou-se e olhou pela passarela de madeira.
Havia luzes piscando adiante e o clamor de vozes. Então veio uma única voz, cantando. Começou a andar em direção ao som, tentando captar as palavras que pairavam no ar noturno.
Vou contar a história dos Vampiratas, História antiga e verídica.
Sim, vou cantar sobre um velho navio E sua tripulação maligna e fatídica.
Sim, vou cantar sobre um velho navio, Que veleja no oceano azul...
Que assombra o oceano azul.Era a voz de um garoto, notou o nadador. Uma voz que estava começando a mudar.
Mais adiante ficava a estalagem. Seu sentido de direção fora impecável, como sempre.Este era o lugar. Era ali que todos os piratas se reuniam. E, mesmo sendo tarde da noite, ali estavam, reunidos ao redor de um garoto com voz ora mais grossa, ora mais fina, que cantava uma velha melodia.
O navio dos Vampiros Piratas tem velas rotas, Que balançam como asas a voar.
Dizem que o capitão usa um véu Para aplacar nosso temor De sua palidez mortal E de seus olhos sem vida, E dos dentes afiados como a noite sombria Ah, dizem que o capitão usa um véu E seus olhos nunca vêem a luz do dia. É melhor ser boazinha, criança — boa como ouro, Tão boa que nem posso contar. Senão te entrego aos Vampiros Piratas E te mando para o mar.
Havia alguma coisa no garoto, algo familiar. Ele não podia deduzir exatamente o que era. Sua cabeça estava latejando. O cansaço da longa viagem começava a dominá-lo.Assim como a fome. Uma fome de um tamanho que não sentia fazia muito, muito tempo. É, é melhor ser boazinha, criança — boa como ouro, Porque... olhe! Estás vendo logo ali? Há um navio escuro no porto esta noite E tem lugar no porão para ti!
Tem bastante lugar para ti!
O garoto o tinha visto agora e, mesmo continuando a canção, deixou uma ou duas notas desafinarem, distraído pelos passos pesados do nadador.E quem não se distrairia com um estranho daqueles? Um estranho cujo simples tamanho e o corpo musculoso bastavam para bloquear até mesmo a luz da lua.
Bom, se os piratas são maus, E os vampiros ainda piores, Rezo para que, enquanto eu viver, Mesmo cantando sobre os Vampiros Piratas, Jamais um deles eu possa ver.
E, se os piratas são perigosos E os vampiros são a morte, Rezo também por ti... Que teus olhos nunca vejam um Vampiro Pirata...
...E eles nunca ponham a mão em ti.
Quando terminou de cantar, o garoto ficou imóvel, olhando o nadador, que tinha parado a apenas alguns passos da mesa. Agora outros se viravam para ver o que havia atraído a atenção do garoto. De repente todos o estavam olhando.
O nadador abriu a boca.
— Eu vou lhes contar a história dos Vampiros Piratas atas — disse.
E então a exaustão se combinou com a fome e sua visão ficou turva. E tudo ficou escuro.
Jimin olhou para o estranho enquanto Kai derramava mais uma gota de rum na boca do sujeito, que estava totalmente encharcado. De onde ele teria vindo, a essa hora da noite? Suas roupas eram estranhas, fora de tempo e lugar.E ele havia olhado de modo muito estranho para Jimin enquanto este cantava a música dos Vampiros Piratas atas. Talvez ela o tivesse perturbado e por isso ele desmaiara.
Com um gorgolejo, o homem retornou à vida, cuspindo o rum.
— Aqui, companheiro, tome um pouco mais, vai lhe fazer bem — disse Kai.
O estranho balançou a cabeça e virou o rosto para longe.
— Chega.
— Prefere um pouco d’água? — perguntou Nini, ali perto.
— Nada — respondeu o estranho lentamente.
E, de modo curioso, agora que retornava à consciência, parecia totalmente recuperado. Até recusou ajuda para ficar de pé, levantando-se e ocupando um banco ali perto.
— Qual é o seu nome, estranho? — perguntou o capitão Wang. — De onde veio?
O homem ficou em silêncio, mas se virou para olhar o oceano.
— Veio de outro navio? — perguntou Kai.
— Dê um tempo — disse o capitão Wang. — Ele parece em choque.
— Foi a cantiga — explicou Jimin. — Ele me ouviu cantando sobre os Vampiros Piratas.
À menção da palavra, o estranho girou a cabeça para Jimin.
— Vam-pi-ros-pi-ra-tas — disse muito lentamente.
Jimin não conseguia respirar, de tanta ansiedade.
— Vou lhe contar uma história dos Vampiros Piratas atas — disse o homem de novo, com a voz baixa e rouca.
Jimin não conseguiu se segurar mais.
— Estou procurando um navio. O navio dos Vampiros Piratas. O senhor veio dele?
Jimin sentiu o medalhão vibrando contra o coração que batia forte. Essa tinha de ser a novidade. Esse tinha de ser o caminho de volta até Chaeyoung. Mas o homem o encarou com olhos arregalados e vazios. Jimin não queria deixar o assunto de lado.
— Acho que minha irmã está no navio. Ela tem a minha idade. Nós somos gêmeos. O nome dela é Chaeyoung.
Ele sabia alguma coisa. Jimin estava tão cheio de perguntas que não soube qual fazer em seguida. Antes que tivesse chance de falar, escutou a voz de Jeon Jungkook.
— Fale dos Vampiros Piratas atas — disse ele. — Como podemos lutar contra eles? Eles tentarão tomar nosso sangue?
O estranho olhou-a espantado, franzindo a testa, como se sentisse dor. Depois assentiu.
— Eles tomaram o seu sangue? — perguntou com rara suavidade. — É isso? Você era prisioneiro dos Vampiros Piratas? Eles tomaram seu sangue antes de você escapar? Por isso está tão fraco?
— Sangue — foi tudo que ele disse antes de fechar os olhos de novo.
— Não — gritou Jimin. — Por favor, senhor, não pare agora. Precisamos que diga onde está o navio. Precisamos saber se minha irmã está lá.
— Chaeyoung — murmurou o estranho. — Perigo.
— Venha — disse o capitão Wang. — Não há tempo a perder. Juntem a tripulação e preparem o navio. Vamos levá-lo conosco.
O capitão olhou o pobre estranho, cujos olhos tremularam por um momento e depois se fecharam.
— Devem ser demônios terríveis para enfraquecer um homem forte como este — disse o capitão Wang, com tristeza. — Se ao menos soubéssemos qual é o ponto fraco deles. Se ao menos tivéssemos uma pista!
Os olhos do estranho tremularam de novo e ele segurou o braço de Jimin.
— Ele tem algo a dizer — sussurrou Kai. — E se eu tentasse lhe dar um pouco mais de rum?
O estranho balançou a cabeça e apertou o braço de Jimin de novo. Mesmo estando fraco, seu aperto era forte, e Jimin se encolheu de dor.
— O que é? — perguntou. — O que o senhor quer tanto dizer?
— Ataquem quando a noite virar dia... — Ele parecia lutar com as palavras. — Quando estiverem mais fracos com a luz.
O esforço das palavras pareceu demasiado. Seus olhos se fecharam de novo e ele se deixou tombar contra a mesa. Jimin achou que iria explodir.Finalmente, finalmente tinha a pista para encontrar Chaeyoung! Mas e se fosse tarde demais? E se eles tivessem se alimentado dela como fizeram com este homem? E se tivessem deixado apenas uma casca frágil?
— Jimin — disse o capitão Wang, vendo sua preocupação. — Fique firme, ouviu? Acredite que ela está bem. E confie em mim, jovem amigo, vamos nos vingar se tiverem feito alguma coisa com ela. Este homem nos deu um grande presente. Vai nos levar ao navio deles e faremos o resto. Vamos encontrar sua irmã, meu garoto, e vamos destruir esses demônios.
Deitado no banco, de olhos fechados, Hyun só queria rir. Aqueles pobres idiotas tinham engolido seu desempenho direitinho. Ele havia se esquecido de como era divertido brincar com as mentes dos mortais.E mal podia esperar para ver a reação do capitão do navio Vampiro Pirata quando um navio de piratas vingativos aparecesse à luz do dia. Será que a vingança poderia ser tão fácil assim? Pela primeira vez em muito, muito tempo, Hyun esperou o amanhecer com uma expectativa deliciosa.
... Penúltimo capitulo pessoal ...
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Siblings Park - Demônios do Oceano
Vampiri2505, litoral oeste da Austrália, em um lugar conhecido como Baía Quarto Crescente, é ali que os irmãos Jimin e Chaeyoung partem, após a morte do pai, faroleiro da cidade onde viviam. Negando a serem adotados ou irem para um orfanato, decidem fugir...