O Fim Da Minha História

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Chaeyoung não lutou. De que adiantava? Hyun era forte demais. Ele fechou a porta da cabine e virou a chave na fechadura, enfiando-a no bolso, por segurança.

Hyun preenchia o cômodo, não apenas fisicamente, mas com uma aura de ameaça e violência. De repente aquele não era mais o abrigo de Chaeyoung, e sim um local perigoso.

Ali, percebeu, poderia ser o lugar onde sua história chegava a um final súbito e brutal.
Estava consciente demais do silêncio lá fora. Não houvera sinal dos outros quando saiu da cabine do capitão.

A noite havia terminado cedo, devido ao compartilhamento. O capitão estava dormindo. Lisa estava se alimentando. Mesmo que ela gritasse agora, ninguém escutaria. Ninguém poderia alcançá-la a tempo. A única pessoa que teria esperança de salvá-la era ela mesma. Mas como?

- O que você quer de mim? - perguntou, decidindo começar com o pior.

Hyun deu um risinho.

- Quero seu sangue, claro.

Aquela resposta direta poderia ser considerada revigorante, supôs Chaeyoung. Talvez ele fosse a única pessoa que ela encontrara no navio que não falava por enigmas.

- Mas por que o meu?

Ele deu de ombros.

- Porque você está aí. E eu estou com fome.

Dava para ver no rosto dele. Era como se fosse feito de vela de cera, derretendo e se transformando. Chaeyoung vira essa expressão três vezes, antes.

Primeiro em Lisa, depois no rosto da cozinheira e há um instante em Hyun, fora da cabine.

Devia ser o rosto que todos tinham por trás das portas fechadas, quando a fome crescia por dentro, atravessando-os como uma onda.

- Mas você poderia conseguir sangue muito melhor do que o meu - disse Chaeyoung, tendo uma idéia súbita. - Sou nova no navio. Só comi uma refeição decente desde que cheguei. Minha comida deve ser a menos nutritiva de todo mundo! Você poderia ter coisa muito melhor.

As palavras dela pareciam ter provocado algum efeito. Ele a olhou com curiosidade por um momento. Depois balançou a cabeça.

- Sangue é sangue.

- Não foi o que o capitão me disse.

A simples menção ao capitão provocou uma careta em Hyun. Talvez tivesse sido pouco sensato mencioná-lo, mas ela estava ficando sem idéias.

- O capitão gosta de criar pequenas regras - disse Hyun. - Ele gosta de seus jantares semanais. Gosta que a gente fique suprimindo o apetite natural, que todo mundo finja ser civilizado. Mas sabe de uma coisa? Nós não somos civilizados. Somos vampiros, demônios... pode chamar como quiser. E vampiros precisam de sangue. Pura e simplesmente.

- Ah, mas você precisa mesmo? Parece que já se refestelou esta noite. Talvez não precise de mais. - Ela se lembrou das palavras do capitão. - Sei que você está faminto pelo sangue, mas não precisa de verdade. Só quer.

- Preciso. Quero. Qual é a diferença? - Ele bocejou. - Você está me chateando.

Chaeyoung havia se afastado de Hyun tanto quanto podia. Estava com as costas junto à escrivaninha. Quando se inclinou ainda mais para trás, a pilha de cadernos e lápis caiu no chão. Quando caíram, ela teve uma idéia súbita.

- Conte sua história - disse.

- O quê? - Ele a olhou estranhamente.

- Conte como você atravessou. Quem você era antes. Como era sua vida.

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