Fita 1, lado A: The Cult Of Dionysus

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Sanbyeon, Coréia do Sul. Um ano antes.

— Já viu o que escreveram sobre você?

Park Sunghoon falou e jogou seu celular em meu colo sem nenhum cuidado. Fiz uma careta de dor ao ter minha perna atingida, — Sunghoon parece não se importar, já que apenas se vira para pegar uma latinha de refrigerante no frigobar de Heeseung. — Pela sua calma sei que não posso esperar por nada muito importante, mas ao rolar pela timeline de sua conta do Twitter, consigo ver os comentários mais diversos sobre a minha pessoa e solto um suspiro de frustração.

Fazia uma semana que meu nome rodava de boca em boca na minha escola, e até na de outras próximas. Havia meia dúzia de pessoas defendendo a minha honra nas redes sociais, mas a maioria perdia seu tempo me xingando de várias maneiras terríveis escondidos atrás da tela de um celular, — nem ao menos tinham coragem de me enfrentar pessoalmente, já que nos corredores apenas viravam a cara e cochichavam entre eles.

Era isso o que acontecia quando se era pego beijando outro garoto no banheiro abandonado da escola durante o horário das aulas. O que me incomodava era que outros caras já foram pegos na mesma situação que eu e isso não rendeu nenhum tipo de ódio a eles, mas sim às garotas que estavam com eles. Dessa vez o ódio era direcionado a mim de maneira esmagadora, pois eu estava com um cara e não uma garota. Foi uma ótima forma de sair do armário para aqueles malditos preconceituosos.

— Semana passada 'tava bem pior — eu disse bloqueando o celular de Sunghoon, fingindo que não era grande coisa — Dou mais uma semana para isso virar fofoca velha.

— Espere até pegarem outro cara chupando o pau de alguém — Sunghoon disse e deu um gole em sua latinha.

Reviro os olhos ao escutar o que meu amigo disse, pois aquilo não era verdade, — sendo sincero era até bem nojento pensar que estavam tendo essa imagem de mim por aí — mas aquela era a pior parte uma grande fofoca: ela costuma se tornar uma mentira quando passada como um telefone sem fio loucamente.

O que me deixava realmente com raiva era que Sunghoon, como meu melhor amigo de infância, deveria acreditar em mim mais do que naqueles boatos imbecis. Mas eu não podia ficar surpreso, porque bem, o Sunghoon é um imbecil quase sempre.

— Eu não 'tava fazendo isso, já disse — cerrei minha mandíbula — Isso é nojento 'pra caralho. Sabe a quanto tempo não lavam o piso daquele banheiro? Não? Eu também não sei.

— Ah, Jay, por favor — Sunghoon deu uma pequena risada com ironia — Vai me dizer que foram só uns beijos inocentes? Nada a mais que isso?

— Sim, foi só isso — disse com toda a convicção que conseguia.

Sunghoon assente com a cabeça, mas seu sorriso de canto repleto de sarcasmo não sai de seu rosto, algo que ele sempre faz quando está prestes a ser levemente babaca. Eu o conheço a tempo demais, desde que eu e ele tínhamos oito anos e erámos moleques jogando bola, então posso prever todas as suas palavras maldosas antes delas virem.

— Não acho que a limpeza do ambiente importe quando estamos naquele estado, se é que me entende — arqueou as sobrancelhas várias vezes indicando duplo sentido — Então vai mesmo me dizer que não teve nada além dos beijos? Nem uma mão amiga ou sei lá como vocês gays chamam isso?

Passei uma mão pelo meu cabelo preto nervosamente, pois sei que não posso usar essa mesma mão para socar a sua cara, pelo bem da nossa amizade. Respirei fundo e respondi sem quase nenhuma vontade:

— Talvez tenha rolado umas mãos bobas, nada demais — dei de ombros — Mas chupar um pau naquele banheiro nojento? Essa é a maior notícia falsa que poderiam espalhar sobre mim.

Caos | JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora