Fita 7, Lado A: Partners In Crime

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Sanbyeon, Coreia do Sul.

Um ano atrás.

Desde criança, eu não me permiti sentir medo. Do que adiantava ter medo do escuro ou de fantasmas se eu não teria a quem chamar para me ajudar? Outras crianças iriam dormir entre os seus pais, ou teria sua mãe contando uma história bonitinha, talvez o seu pai lhe faria um cafuné e o motivaria a enfrentar seus medos, porque eles não significavam nada. Mas eu não tinha ninguém.

Crescer podia ser assustador, com toda a puberdade e aqueles hormônios fazendo loucuras em sua cabeça, mas nem isso foi o bastante para me fazer sentir medo. Meus amigos criaram paranoias sobre primeiros beijos, sexo e namoradas, mas eu sempre soube que era diferente deles, então nunca me importei. Meu grande esforço nos meus 16 anos de vida era ser socialmente aceito dentro dos meus padrões, o que era uma merda porque aquilo envolvia álcool, drogas e uma banda de rock cheia de desajustados. Mas até que eu gostava.

— Eu admiro você, Jay — Sunghoon disse uma vez, no auge dos nossos 14 anos. — Você não tem medo de nada.

— Você também não deveria ter, Hoon. O que pode dar medo em um garoto como você? Ou vai me dizer que ainda tem medo do escuro? — Eu dei uma pequena risada de forma implicante.

Ele riu de volta, mas não pareceu de verdade.

— Eu só tenho medo de uma coisa — ele voltou a dizer.

— Do quê?

— De mim.

Eu não entendi o que aquilo significava na época, eu achei que Sunghoon só estava em uma fase meio emo, consumindo coisas do Tumblr e ouvindo Paramore. Mas agora eu o entendo, porque eu percebi que eu sou a pessoa mais perigosa para mim mesmo, as decisões que eu tomo podem me ajudar ou arruinar minha vida.

Talvez se eu tivesse tido medos na infância, eu soubesse como lidar com meus medos de agora. Mas não é tão simples. Eu sou o culpado pelos terrores que rondam a minha vida nesse momento, ninguém me obrigou a fazer tanta merda ao ponto de nada mais fazer sentido. Eu sou o único culpado pelo vazio que eu sinto.

E o vazio é perigoso. Ele é um grande espaço de absolutamente nada. É muito fácil se perder dentro dele e ser consumido por aquilo, de repente nada mais do que você ama importa, porque você não sente nada. Sentir que esse vazio estava se apossando de mim me deixava, pela primeira vez, com medo.

— Merda! — eu resmunguei irritado e joguei meu celular de qualquer jeito na minha cama, torcendo para ele não cair no chão.

Levei minhas mãos a minha cabeça e tentei colocar meus pensamentos no lugar. Eu tinha que terminar meu dever de casa e fazer dois trabalhos, mas perdi a última meia hora olhando a porcaria dos comentários do último post no Instagram de Minjun.

Eu queria ser discreto sobre aquele namoro. Já era uma merda estar em um contra a minha vontade, tudo o que eu não precisava era daquela cidade minúscula sabendo daquilo. Mas é claro que minhas vontades foram negadas mais uma vez, e Minjun postou uma foto nossa com a legenda: "para sempre juntos".

A foto era ridícula. Ela foi tirada de baixo para cima e ele beijava a minha bochecha enquanto eu estava distraído. Podia ser uma foto espontânea e fofa, mas a verdade é que eu estava reclamando na hora sobre ele estar sendo grudento. Mas ninguém notou aquilo, porque foram 245 comentários comentando sobre como erámos bonitos juntos e desejando felicidades.

Yang Jungwon curtiu aquela foto. E eu morri um pouco por dentro. Era o modo discreto dele de dizer que tinha visto como as coisas entre nós eram diferentes agora. Mas eu ainda queria conversar com ele, explicar que eu não quis nada daquilo e que se fosse para escolher alguém, então seria ele.

Caos | JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora