Fita 4, Lado A: Gypsy Woman

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Sanbyeon, Coréia do Sul. Um ano antes.

Anos atrás, quando eu, Sunghoon e Heeseung estávamos no auge dos nossos 13 anos, pensávamos que seria uma ótima ideia brincar de 'apostar'. Eu tinha ouvido esse termo saindo da boca do meu pai, em uma noite onde ele e os amigos estavam jogando pôquer na sala de jogos da nossa casa. Como não podíamos apostar como adultos, usando dinheiro, a gente apostou do jeito que dava, usando o que tínhamos.

Começou com coisas triviais, algo como "Eu aposto o meu vinil do Pink Floyd que você não consegue jogar uma pedra no portão do vizinho" ou "Eu aposto a minha camiseta do Nirvana que você não passa um trote na loja de conveniência da esquina". Nós brincamos disso por um ano inteiro, até que começou a ficar chato demais, infantil demais. A brincadeira acabou morrendo entre nós, pelo menos até o ano seguinte.

Eu tinha acabado de completar os meus 14 anos, foi mais ou menos nessa época que eu comecei a ruborizar ao ver os garotos da minha turma trocando de roupa no vestiário depois da Educação Física, — não que meus amigos soubessem disso. — E os garotos, naquela época, estavam começando a descobrir que as meninas da nossa turma não eram bobonas e nojentas, na verdade elas eram bonitas o suficiente para serem beijadas.

Foi assim que, durante a primeira festa das nossas vidas, — dada por Choi Yewon, que mais tarde seria conhecida como Arin, a garota em ascensão de popularidade da nossa escola. — Um Jay de 14 anos resolveu que seria uma ótima ideia revivermos a brincadeira de apostas para se livrar uma conversa chata com os meus melhores amigos:

— Sabe o que me deixa puto? — Sunghoon perguntou, segurando um copo de suco de groselha e falando mais alto que a música de hip-hop que tocava. — O fato de que a gente ainda não beijou nenhuma garota.

— Isso é realmente importante? — eu perguntei, entediado. Eu não sentia a menor vontade de beijar uma garota e não suportava quando alguém começava a falar sobre aquilo. Fazia eu me sentir esquisito.

— Claro que é! Somos, provavelmente, os únicos otários da nossa turma que não beijaram ninguém ainda. Estamos sendo passados para trás, Jay!

Eu não me importava de ser "passado para trás". Nenhuma menina me atraia e isso me deixava em pânico com a ideia de ter algo de errado comigo. Na verdade, naquela época, eu já suspeitava exatamente qual era o meu "problema", mas eu não me sentia confortável para falar com ninguém sobre isso, sendo sincero, eu sentia que não tinha ninguém.

Mais de uma vez eu já tinha escutado comentários homofóbicos vindos de Sunghoon e Heeseung. Eles não eram exatamente ácidos, mas falavam em forma de piada como se fosse algo ruim. Os meus pais sempre me ensinaram que sexualidade, raça e gênero não são motivos de piadas, mas Sunghoon e Heeseung foram criados em lares tradicionais e conservadores, então eu não podia pedir muito para eles.

— O foda é que nenhuma garota quer a gente — Heeseung disse e bufou. — Como vamos beijar alguém desse jeito?

— Talvez vocês só precisem de coragem — eu disse.

— E da onde vamos tirar isso? Se a gente chegar em uma garota e ela nos rejeitar, vamos virar as piadas da escola. — Sunghoon choramingou.

— Não é 'pra tanto. — Revirei os olhos.

— Na verdade, é sim — Heeseung rebateu. — Sabem o Huening Kai? Parece que ele foi rejeitado por uma garota de outra turma, e 'tá geral chamando ele de perdedor.

— Mas ele é um perdedor, ele é super esquisito. — Dou de ombros. — Ele vive tentando se enturmar com a turminha do Choi Yeonjun, mas todo mundo ali só usa ele de capacho.

Caos | JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora