Fita 7, Lado B: Little White Lies

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Sanbyeon, Coreia do Sul

Dias atuais.

Eu acordo, mas não abro os meus olhos. Ao invés disso, um longo gemido de dor saí da minha garganta enquanto eu me espreguiço lentamente, sentindo dores pelo meu corpo que vão das minhas têmporas até os tendões dos meus pés. Segundos depois meus olhos abrem com dificuldade, e eu percebo que não queria ter acordado.

Não estou na minha cama, aquela é a cama dos meus pais, ela é ainda maior que a minha e cheira a solidão. Ela tem o tamanho perfeito para caber a minha vergonha e raiva, o cheiro combina com o fedor de álcool que ainda está grudado nos poros da minha pele. Eu não lembro de ter tomado um banho, embora tivesse uma vaga lembrança de mim virando uma garrafa de whisky na banheira dos meus pais enquanto chorava compulsivamente por alguns minutos. Talvez horas.

Eu estou usando pijamas, pelo menos. Decência era a única coisa que estava me restando naquele momento, embora eu quase tivesse perdido isso também quando estava bêbado e implorando para Park Sunghoon transar comigo no banheiro do primeiro andar. Porra! Eu implorei para transar com meu ex melhor amigo. O que tinha naquelas bebidas? Deveria ter veneno, era melhor eu ter morrido do que feito tudo o que eu fiz na noite anterior.

Reflito por um momento os motivos que me levaram aquilo e as lembranças das sensações que eu tive me fazem ficar enjoado. Eu estava naquele banheiro sozinho, tremendo como um louco, com o coração palpitando, sentindo que iria morrer no próximo segundo, então Sunghoon apareceu. Eu julgo o meu descontrole por ter chegado naquele nível, mas o compreendo. Eu precisava sentir qualquer coisa que não fosse a sensação de morte que estava consumindo todo o meu corpo naquele momento.

Me sento na cama e esfrego meu rosto lentamente, como se eu tentasse limpar todas aquelas memórias dolorosas de dentro da minha cabeça. Meus olhos marejam, eu não sei se é porque eu quero chorar de desespero, ou se é por causa do sol entrando pela janela, — já que eu nem ao menos fechei as cortinas antes de dormir. — Pela luz forte, deviam ser quase 12h, e eu sentia que mal tinha dormido.

— O caminhão das más notícias está chegando. — Jake entra no quarto de repente, fazendo um barulho com a boca que deveria ser parecido com o de um trem, mas soava como gases.

— Jake, fala baixo, por favor. — Massageio minhas têmporas. — Minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento.

— Muitas coisas vão explodir na sua vida hoje, Jay. — Ele se jogou de costas na cama, sua cabeça encostava nas minhas pernas. — Eu espero que você saiba que suas ações têm consequências e você vai precisar acordar e lidar com todas elas nas próximas horas,

— Você também deveria saber, porque a consequência de você falar tão alto vai ser receber um soco meu no meio da sua cara. — Fecho meu punho e aproximo de sua bochecha, mas ele nem se move.

— Isso é homofobia, você não pode agredir alguém da sua comunidade. — Jake abre um sorriso, parecendo satisfeito em poder falar aquilo em voz alta. — Nem acredito que posso dar essa cartada em voz alta. Ei, Jay, eu também gosto de garotos. Cara, é mágico poder falar isso, porque eu passei tanto tempo sem falar? É cedo demais para pendurar a bandeira pansexual no meu quarto?

Jake estava feliz demais, ele deveria estar com uma ressaca tão ruim quanto a minha. Não sei se exagerei ou se ele bebeu de menos, mas me senti traído, como que ele não estava no mesmo estado que eu? Costumávamos ser amigos de bebedeira. Para a tristeza de Jake, ele estava doce demais para a minha amargura.

— Primeira regra da nossa "comunidade", — fiz aspas com as mãos. — os gays são detestados por todo o resto.

— Grandes sofredores — ele ironiza.

Caos | JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora