Fita 6, Lado B: C'est La Vie

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Sanbyeon, Coreia do Sul.

Dias atuais.

Eu estive ali tantas vezes que era difícil contar. Tudo era familiar ao ponto de estar gravado na minha memória; a rua pouco movimentada, a árvore que fazia sombra na porta principal, a pouca grama que crescia em um pedaço que deveria ser um jardim e o pequeno degrau que eu sempre tropeçava antes de entrar, porque esquecia que ele existia.

A fachada daquela casa continha mais histórias que a conta do Wattpad de uma garota de 14 anos, e eu lembrava de todas elas como se tivessem acontecido na semana passada. Minhas memórias eram nítidas de quando tomávamos sorvetes naquela calçada, ou quando entramos naquela casa sujos de lama e levamos a maior bronca, ou até quando tocamos a campainha de toda a vizinhança e ganhávamos mais um sermão.

Mas eu também lembrava da última vez que eu pisei ali. E existe algo cômico e deprimente sobre últimas vezes, porque você nunca sabe que é a última, mesmo que espere por isso. Se você termina um relacionamento e diz que nunca mais quer ver aquela pessoa na sua vida, você não espera que ela realmente suma, talvez vocês ainda se vejam um dia. Mas talvez não. Pensar nas últimas vezes era igual lembrar das primeiras, só restava a nostalgia de algo que nunca mais vai voltar.

Eu esperava que a minha última vez em frente aquela porta fosse definitiva, mas já fazia um tempo que eu percebi que eu não tenho controle de nada na minha vida por mais que eu queira muito. Por isso eu ainda estava com a mão erguida e sem coragem de tocar a campainha, aquela seria mais uma das situações onde eu não teria controle do que iria acontecer, o que me deixava apreensivo.

Mas eu toco a campainha. Com os dedos tremendo. Com uma gota de suor frio escorrendo na minha nuca. Com tantos sentimentos conflitantes dentro de mim que eu sentia como se fosse explodir. E parecia que meu corpo ia fraquejar por completo quando escuto passos se aproximando, e desejei não estar ali quando Park Sunghoon abriu aquela maldita porta.

Seu rosto está sem emoção, ele parece apático e tinha olheiras profundas em seu rosto, mas quando seus olhos me enxergam em meio a penumbra, eles se arregalaram levemente. Sua presença me deixa zonzo, perdido em mim mesmo, as palavras somem e eu quase gaguejo. Tento colocar minha cabeça no lugar, mas tudo o que eu consigo dizer por impulso é:

— Oi.

— Oi? — ele responde, soando confuso.

E eu não sei mais o que dizer. Eu tinha que confortar ele de algum jeito, mas a última vez que eu tinha consolado Sunghoon foi quando a mãe dele morreu, ironicamente também foi naquela mesma calçada. A lembrança é dolorosa, mas lembro que eu o abracei com força, ele chorou no meu ombro e, por mais que já não acreditasse em Deus naquela época, eu pedi para que Ele tirasse a dor de Sunghoon, porque ele não merecia aquilo. Ele era muito novo para ver um dos seus pais morrendo, mas pensando bem, ele ainda é, e passou por isso de novo.

Passei tempo demais desejando o mal para Sunghoon naqueles últimos tempos, a empatia que um dia eu senti havia morrido dentro de mim há muito tempo. Mas saber do que aconteceu por Jungwon fez reacender em mim o que estava apagado, eu só queria ter me preparado um pouco melhor antes de aparecer do nada na frente da casa dele.

— Desculpa aparecer aqui a essa hora. Na verdade, me desculpa por aparecer. — Meus lábios comprimem e eu desvio meu olhar do seu, me sinto incapaz de pensar enquanto o encaro. — Sei que isso é esquisito...

— O que você 'tá fazendo aqui, Jay? — Sunghoon me interrompe. E embora suas palavras parecessem raivosas, a sua voz estava suave, quase trêmula, seus olhos pareciam ter expectativas.

Caos | JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora