Sanbyeon, Coreia do Sul.
Um ano atrás.
Um sapato meu voou pela janela do meu quarto. Mesmo sem enxergar nada, ouvi o palavrão de Jake lá debaixo e fechei os olhos com força, o amaldiçoando por falar tão alto. Heeseung o repreendeu, depois Sunghoon mandou eles calarem a boca. Eu joguei o segundo sapato e torci para que ele caísse em cima da boca dos três, — mesmo que isso não fosse cientificamente possível.
Quando escutei o baque seco do calçado caindo em algo duro, junto veio um novo xingamento, dessa vez de Sunghoon. Eu dei uma espiada e vi ele acariciando a testa, fazendo uma careta de raiva para mim, provavelmente eu havia o acertado, assim como acertei Jake antes. Mesmo sem eles me verem, eu dou uma risadinha de satisfação. Heeseung estapeou os dois bocós para eles calarem a boca, mas eles apenas retribuíram os tapas com mais intensidade. Eu revirei os olhos e me preparei para a minha próxima ação.
Dei uma última olhada para a penumbra do meu quarto, tentando detectar qualquer movimento que pudesse me entregar, mas tudo estava silencioso, como qualquer casa de família às 22h deveria estar. Abri minha janela completamente e me sentei na beirada, respirando fundo para criar coragem, vendo pelo canto de olho o quão distante eu estava do chão. Maldito pé direito duplo do primeiro anda, malditos pais arquitetos com mania de casas grandiosas.
— Relaxa, JayJay, eu seguro você — Jake disse, ele tentou sussurrar, mas acabou soando alto demais.
— Duas mãos não são o suficiente 'pra segurar aquela bunda gorda dele — Heeseung disse, rindo maldoso.
— Eu ouvi isso — rebati com raiva, também tentando sussurrar.
— Foi a intenção.
Eu revirei os olhos, mas o ignorei. Resolvi focar em esticar um dos meus braços para segurar a treliça de metal que tinha ao lado da minha janela. Com as mãos tremendo, me agarrei a ela, jogando meu corpo para fora do meu quarto e a segurando como se minha vida dependesse disso, — porque talvez dependesse. — Eu soltei uma lufada de ar em puro pavor ao notar que não tinha nada mais, além da minha força, que me impedisse de cair com a bunda no chão lá embaixo.
— Isso, Jay, agora faz um pole dance — Jake disse e riu alto.
— Não tem graça, idiota — eu disse quase grunhindo.
— De verdade, acho que com esse corpinho você consegue apurar uma boa grana naquele cabaré lá do Centro. — Jake riu ainda mais.
Se eu revirasse meus olhos mais uma vez, era capaz deles ficarem presos atrás da minha cabeça.
— Eu achei que era exagero, mas a sua bunda realmente parece maior vista daqui — Heeseung comentou.
— É redondinha — Sunghoon disse de forma despretensiosa.
— É bonita — Jake falou com admiração.
— Querem parar de olhar 'pra minha bunda e me ajudar a descer? — Eu disse com a voz arranhando de tanta raiva.
— E como você espera que a gente faça isso? Não somos o Homem-Aranha. — Jake deu de ombros. — Desce mais um pouco que eu vou tentar segurar você, pelo menos 'pra não deixar você cair com a cara no chão.
Jake achava que não era o Homem-Aranha, mas esqueceu que eu também não era. Segurando o fôlego, e começando a acreditar em Deus por alguns segundos, tento escorregar meu corpo pelo metal de forma segura, o que era extremamente fácil, pois a chuva que havia caído mais cedo naquele dia tinha a deixado escorregadia.
Ouvi as palavras de incentivo dos meus amigos, dizendo que eu estava indo bem, que só precisava descer mais alguns metros, e eu ia confiando neles. Mas é claro que eu ia esquecer que meus amigos jamais seriam seres humanos confiáveis.
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Caos | Jaywon
Teen FictionSer um baterista homossexual em uma banda de garotos heterossexuais costumava ser o maior dos problemas de Jay. Porém, após beijar Yang Jungwon no final de um de seus show, Jay percebe que aquele garoto seria apenas o inicío de seus verdadeiros prob...