Fita 4, Lado B: Dream Boy

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Sanbyeon, Coréia do Sul.

Dias atuais.

"Você é o motivo das maiores desgraças da minha vida, Park Jongsung", foi a frase que rodou a minha cabeça durante toda a madrugada, não parando nem mesmo quando os primeiros raios de sol apareceram no céu. A voz embriagada e sincera de Jungwon parecia impregnada nos meus ouvidos, parecendo ser a única coisa que eles conseguiam escutar por horas a fio.

Eu me perguntava o quanto de culpa eu poderia manter dentro de mim e quando ela iria embora, ou melhor, como ela iria. Sou um covarde, cada vez mais tenho a certeza disso, eu não tenho a coragem de olhar nos olhos de Jungwon e lhe dizer que a sua frase era mais verdadeira do que ele podia imaginar. Eu não conseguia assumir isso nem para mim mesmo, dirá para ele.

Os meus pensamentos da madrugada me fizeram querer voltar ao passado, naquela noite onde eu o beijei pela primeira vez. Eu quis desfazer aquilo, eu queria nunca ter o tocado, ao mesmo tempo, eu também me recusava a nunca ter o conhecido. Eu odiava saber que eu mantinha sim sentimentos por Jungwon e que eles talvez fossem mais antigos do que eu achava.

Perceber que o fato do meu coração acelerar tanto quando eu estava com ele era porque eu gostava dele, me fez querer entrar em pânico. Eu gritei em meu travesseiro até a minha garganta doer. Sunoo estava certo, eu realmente sentia algo romântico por Yang Jungwon e aquilo era errado. Nós dois jamais iriamos dar certo, eu não queria um relacionamento e Jungwon era um grande enigma na minha vida, eu nunca sabia como ele se sentia sobre o mundo ou sobre mim.

Jungwon era um garoto dos sonhos. Ele tinha uma beleza angelical, era gentil, inteligente, amava desenhar e cuidava das plantas tão bem quanto cuidava dos amigos. Ao mesmo tempo, ele era fechado, grosseiro e não me dava o mínimo de confiança, — mesmo que eu não merecesse. — Eu não tinha paciência para lidar com as suas mudanças de humor em relação a mim.

E então vinha a parte que mais me causava agonia, eu havia o machucado profundamente e ele nunca soube. E se dependesse de mim, e da minha óbvia covardia, ele nunca iria saber. Por isso, eu cheguei na conclusão de que eu iria me afastar definitivamente de Jungwon.

Esses afetos trocados em segredo por mais de um ano precisavam ter um fim definitivo, eles já haviam causado estragos o suficiente na minha vida. Eu ia esconder todos os meus sentimentos até que eles evaporassem de mim. Eu e ele nunca daríamos certo de qualquer jeito. E dói um pouco no meu coração perceber aquilo, mas a vida nunca foi justa mesmo.

— Filho, sua comida vai esfriar, você não comeu nem metade do que serviu — minha mãe diz com preocupação, usando sua voz aveludada.

— Nunca coloque mais comida do que pode comer, essa é uma das regras mais importantes da casa, lembra? — meu pai diz, sem olhar para mim, pois estava mais preocupado em responder seus e-mails pelo celular.

"Como se eu seguisse alguma dessas regras estúpidas morando sozinho nessa casa", eu pensei. Pior do que a minha noite de sono perdida, era ter que lidar com a presença raríssima dos meus pais em casa, tomando o café-da-manhã comigo depois de anos, justo no dia em que Yang Jungwon era o nosso hóspede.

— Eu não 'tô com muita fome. — Mexo na minha comida com os talheres de forma desanimada.

— Mas você precisa comer para recuperar a energia gasta com o seu convidado ontem à noite — meu pai diz, tirando os olhos rapidamente do celular e me dando um sorriso recheado de duplo sentindo.

Meus pais sempre lidaram com a minha sexualidade e vida amorosa da forma mais natural possível, e eu era grato por aquilo, já que era um problema a menos na minha vida. Porém, a falta de presença deles na minha vida acabou os fazendo perder a noção de como colocar limite nas coisas ditas ao seu único filho.

Caos | JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora