Sanbyeon, Coreia do Sul
Dois anos depois.
Sempre pensei que nenhuma ausência seria tão sofrida ao ponto de nunca ser esquecida. Passei 15 anos da minha vida com o meu pai, quando ele decidiu ir embora e nunca mais falar comigo, eu aceitei mesmo que doesse na época. Hoje eu mal consigo lembrar do seu rosto ou de suas manias, nem mesmo da sua voz quando cantava músicas de ninar para mim quando eu era criança.
No momento em que terminei meu namoro com meu primeiro amor, pensei que nunca iria esquecer do seu beijo ou do modo como suas mãos se enrolavam no meu cabelo quando ele fazia carinho. Eu o detestava 50% do tempo, mas os outros 50% me faziam lembrar do porquê eu o amei tão intensamente ao ponto de tentar esquecer todos os seus defeitos. Mas ele foi embora da minha vida e hoje não tenho nenhuma memória de um momento realmente feliz entre nós.
Consegui sobreviver até ao luto da morte do meu primeiro cachorrinho. Ele foi meu companheiro por toda minha infância, perder ele aos 13 anos foi como um tiro me atravessando. Embora eu ainda desenhe a sua silhueta na borda dos meus cadernos de ilustração, não consigo lembrar de como era o toque em seu pelo ou o som de seu latido quando me pedia para passear tarde da noite.
Mas nenhuma ausência foi como a de Jay.
Todas as pessoas que foram embora da minha vida foi como um ciclo que se iniciou e se fechou na minha frente, mas ele não. Eu esperei que ele voltasse, porque ele me prometeu que voltaria. Assim como ele nunca permitiu que eu deixasse de o amar, ele também nunca me deu permissão para que eu esquecesse de suas promessas. Ele era sádico, sempre foi. E eu o esperei mesmo assim.
O primeiro mês foi como um inferno. Não era apenas eu que estava sendo obrigado a lidar com a falta da sua presença, mas todos ao meu redor. Jay não deixou apenas meu coração para trás, mas o de seus amigos também. A pior parte é que ele também tinha deixado comigo a missão de contar a todos que ele havia ido embora de uma hora para a outra.
— De todos os egoísmos que eu tive que suportar desse filho da puta, esse é o pior — Heeseung disse entredentes. — Eu podia esperar o abandono de qualquer pessoa, menos dele. Nunca dele.
— Não foi egoísmo, Hee. Ele precisou fazer isso — tentei explicar.
Heeseung me olhou com tanta raiva que fiquei com medo. Abracei meu próprio corpo e me afastei dele de forma inconsciente, esperando que alguém me protegesse ou falasse algo que concluísse o que disse, mas todos ficaram calados. Cheguei a olhar para Sunoo, Yoon e Anna, mas eles pareciam compartilhar do mesmo pensamento de Heeseung, percebi então que eu estava sozinho.
— Você pode pensar que não foi egoísmo, porque você é o namorado dele, Jungwon — Heeseung falou, se aproximando de mim. — Mas ele foi atrás de você antes de ir. Sou o melhor amigo dele desde sempre, ele me prometeu que nunca me deixaria sozinho, mas ele foi embora e escolheu outra pessoa para avisar.
— Isso não é uma competição — tentei me defender.
— Não, e você nem tem culpa disso, mas ele tem.
— Ele estava em um momento de pressão, acha mesmo que ele quis sair fugido assim do nada? Ele não teve escolha, Heeseung.
— Ele teve e escolheu. — Heeseung olhou ferozmente nos meus olhos. — Ele escolheu você. Não a mim, não a banda, mas você. Se o Jay tivesse consideração por todos esses anos que passamos juntos, ele teria vindo até mim e juntos a gente ia ter uma solução. Nem que fosse para todos nós irmos até Seul, enterrar todos da CHOIces ou até contratar alguém para sumir com os pais dele.
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Caos | Jaywon
Teen FictionSer um baterista homossexual em uma banda de garotos heterossexuais costumava ser o maior dos problemas de Jay. Porém, após beijar Yang Jungwon no final de um de seus show, Jay percebe que aquele garoto seria apenas o inicío de seus verdadeiros prob...