Fita 1, lado B: Teenagers

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Sanbyeon, Coréia do Sul.

Dias atuais.

— O Heeseung 'tá esquisito.

Olho para Jake e espero que ele continue o seu pensamento, mas ele não diz mais nada. Não sei se ele espera que eu o responda para só então me explicar sobre o assunto, só sei que eu odiava quem fazia aquilo. Odeio rodeios, se você tem algo a dizer, então só diz.

— Como assim? — pergunto.

Jake dá uma tragada no seu cigarro de maconha e o estica para mim. Eu o pego tomando cuidado para não queimar meus dedos e trago um pouco enquanto espero ele me responder.

— Ele veio com uma conversa sobre não aguentar mais o jeito que a banda 'tá levando as coisas e que queria fazer mudanças — seu olhar estava distante — Acho que isso não é um bom sinal.

Nego com a cabeça enquanto lhe devolvo o cigarro, ele fuma mais uma vez e solta a fumaça lentamente. Heeseung também havia dito algo assim para mim umas semanas atrás, mas eu não levava a sério, porque sei que ele não estava com a cabeça muito no lugar nos últimos tempos. — embora eu suspeitasse que ela nunca esteve.

— Ele 'tá estressado, é só isso — eu respondo — Algumas coisas a gente tem que relevar e não levar a sério.

— Não sei, mano — Jake mordica o lábio inferior — A banda anda brigando um bocado ultimamente. Tenho um pressentimento ruim.

Levo uma mão até seu ombro e aperto suavemente. Noto pelo modo que aquela parte do seu corpo está tensa que talvez ele estivesse realmente muito preocupado. Jake não era um cara de ter preocupações, ele sempre era o mais de boa entre nós quatro.

— É, a gente realmente não 'tá no momento mais em paz da banda, mas isso vai passar, Jake — minha voz sai serena — Relaxa, ok? É mais provável algum monitor pegar a gente fumando aqui do que acontecer alguma coisa com a COSMOS.

— Se você diz... — ele tragou mais uma vez.

Nós estávamos em uma parte escondida da escola. Poucos alunos sabiam que havia uma saída na parte de trás do prédio para colocarem o lixo para fora. Como só faziam aquilo em uma hora e dia específicos, qualquer momento fora daquele horário era o melhor canto para fazer algo proibido. Como fumar um baseado.

Eu estava tentando diminuir as drogas que eu costumava consumir. Percebi que lentamente estava as usando mais do que o normal e isso não me fazia nem um pouco bem. Eu sabia que aquela era uma reação do meu corpo as merdas que vieram acontecendo desde aquele maldito boato que começou um ano antes, e eu não ia deixar que isso me consumisse mais do que já havia consumido.

Já não bastava eu ser perturbado da cabeça durante a maior parte do tempo, eu não iria querer ser um viciado também. Se aquela maldição dos grandes artistas da música morrerem aos 27 anos for real, não vou querer apressar as coisas, ainda faltam dez anos para isso. Kurt Cobain, me aguarde, seja lá onde você estiver.

Mas às vezes era difícil negar, porque ao mesmo tempo que eu não queria consolar minhas preocupações com narcóticos, eu almejava para que eles me acalmassem. Eu odiava contradições e o que eu mais vinha sendo ultimamente era um cara contraditório. Estou me odiando.

— A gente vai ter um show grande amanhã, não é? — Jake volta a falar, mas parece desanimado.

— E você não parece muito feliz — eu observo — É o primeiro show da banda em um bar reconhecido, mano.

— Eu não sei, Jay. Não sei mesmo — ele negava veementemente com a cabeça — Eu sei que 'tô soando paranoico 'pra caralho, mas...

— Jake, quanto mais você pensa, pior fica.

Caos | JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora