[1] Dívidas.

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                                Oi💐
         perdão se tiver algum erro.



Quando eu era menor, imaginava que minha vida iria tomar um rumo diferente de como eu estou agora. Eu costumava escrever nas redações que meu grande sonho era ter um bom emprego, uma boa estabilidade financeira, e me casar com uma linda mulher, com quem teria meus filhos. Era um aluno exemplar, era raro encontrar alguém que não tivesse inveja das minhas notas perfeitas. Meus pais sempre me deram tudo do bom e do melhor, estudei em escola particular, tinha tudo que queria, vestia roupas das melhores marcas, o sonho de qualquer criança era ter uma vida igual a minha.

Éramos a família perfeita. 

Essa vida de luxo se estendeu até o momento em que meu pai saiu de casa, e se separou da minha mãe para ir viver com a amante. Foi um choque para a cidade inteira, um cara tão respeitado que prezava pela família igual ao meu pai, de repente sair de casa e deixar para trás seu filho de onze anos, e a esposa tão querida que fazia de tudo por ele.

Depois dali foi só ladeira abaixo, minha mãe entrou em depressão, não tinha disposição para fazer nada. Era eu quem tinha que pentear seus cabelos, e dar comida em sua boca para que ela não ficasse ainda mais desnutrida, eu costumava contar piadas sem graças pra conseguir arrancar um sorriso dela, mas tudo que eu via em seu rosto eram lágrimas. Seu sorriso tão contagiante agora era lenda, eu nem me lembrava mais como era o som de sua risada. 

Mamãe começou a tomar remédios para ansiedade e depressão, alguns remédios para dormir, e outros para conseguir comer. Eu nunca tinha visto ela assim.

 A nossa casa foi perdendo a cor, assim como a vida…

Nada fazia sentido para mim. Por que tudo que eu tinha se foi em tão pouco tempo? 

Na escola pública, as pessoas não tinham dó e nem pena de jogar na minha cara que eu não tinha um pai presente, e uma mãe depressiva. Quando tinha reunião dos pais, eu pedia para nossa vizinha ir no lugar da minha mãe, não queria ser mais uma decepção para ela, pois seu comportamento dentro de casa começou a refletir em meus estudos, eu não eram mais o mesmo.

Tive que amadurecer muito rápido, era apenas uma criança de onze anos quando tudo foi posto sobre minhas costas. Minhas notas começaram a cair, meu comportamento já não era dos melhores, fui de melhor aluno da sala para o pior em um curto período. Virei uma pessoa fria e amargurada que não conseguia ver nada de bom nas pessoas, não conseguia me abrir com ninguém, e fazia questão de afastar qualquer pessoa que tentasse ter um contato maior comigo.

Não acreditava mais em afeto nenhum depois que perdi o afeto do meu pai. Ele era meu herói, ver ele partindo de uma hora pra outra me doeu.

Depois de um tempo percebi que mamãe tinha virado dependente de mim, ela já não conseguia fazer nada sozinha.

Larguei a escola com quinze anos para ir trabalhar pra fora e sustentar nossa casa. Fazia as compras, pagava as contas, cozinhava, eu cuidava da casa.

Minha mãe virou uma criança novamente, eu que dava banho nela, comida na boca, trocava de roupa, lavava seu cabelo, e ajudava ela a andar.

Ela nem falava mais, e tremia, tremia muito, isso eu me lembro.

A doutora disse que isso ocorreu devido a um trauma muito grande da vida dela. Eu chorei muito naquele dia, porque a doutora me disse que ela não voltaria a ser o que era antes.

Cuidei dela e sustentei a casa até o dia de seu falecimento. Ela teve um infarto e quando chegamos ao hospital já era tarde demais.

Eu estava tão exausto fisicamente e mentalmente que nem consegui chorar, não consegui botar pra fora tudo que estava sentindo. E eu me senti o pior ser humano do mundo por me sentir aliviado ao saber que não iria mais cuidar dela, e talvez voltaria a viver uma vida de adolescente normal.

Um Inquilino e MeioOnde histórias criam vida. Descubra agora