A Rainha dos Anjos

Capítulo 10 - Deslumbre

Olhos prateados me encaravam pela fresta da porta. Intimidada e curiosa, me aproximei não querendo perder qualquer segundo sem olhar para ele. Eu não conseguia nem me irritar por sua invasão de privacidade nos últimos dias e agora. Ele poderia invadir o que quisesse.

Pisquei tentando frear meus sentimentos. O anjo me hipnotizava como uma sereia, não sabia se era apenas minha fascinação ou se ele realmente tinha algum poder sobre mim.

— Podemos conversar no telhado?

— Claro.

Poder sobre mim definitivamente.

Ele pegou minha mão me trazendo para fora e não se preocupou em avisar, mas quando ele encarou o telhado, levantou as asas e impulsionou as pernas, me preparei para morrer. Fiquei no ar por curtos segundos e então já estávamos no telhado que não era inteiramente feito de telhas, isso certamente seria um problema e talvez eu não aceitasse tão rápido se não fosse plano. Era um terraço cercado por telhas e descobri que tinha se tornado uma piscina de folhas secas. O anjo pareceu indiferente ao pisar nelas descalço, eu já não estava tão confortável assim, devia haver insetos traiçoeiros ali.

— Te incomoda? – olhei para ele, mas antes que eu respondesse, ele bateu as asas duas vezes fazendo vento suficiente para afastar as folhas dos meus pés. Sorri me esquecendo como se agradecia. – Você me perguntou se me conhecia...

Apesar de ele ter confirmado, agora eu não tinha mais certeza, nunca senti aquela presença majestosa. Não era como apenas ver ele, eu sentia sua aura angelical perto de mim, era tão diferente que eu não entendia como sabia daquilo.

— Você sabe meu nome?

Ele assentiu, mas não disse.

— Estou aqui pra te proteger... por escolha minha. Te encontrei quando você era criança, então você deve ter me visto algumas vezes porque eu não me preocupava em me esconder. Você era muito pequena. – ele falou com afeição e apreciar a sensação foi inusitado. Ele devia ter a idade do mundo. – Portanto, venho aqui checar como você está até hoje... Eu realmente não sabia como te abordar, então me deixei ser visto aos poucos, não queria que parecesse estranho pra você, humanos se constrangem tão facilmente... Está sendo assim?

Sorri de lado.

— Acho que não dá pra evitar... Porque um anjo, por vontade própria, iria proteger uma mortal como eu?

— É por isso que decidi vir falar com você. Acho que está na hora de você saber algumas coisas. Se quiser, posso te levar... – ele interrompeu a própria ideia que parecia trazer deslumbramento. – Está tarde pra você?

— Não, eu esperei tanto por você...

— É seu horário de dormir. – ele falou como se a atividade nunca tivesse sido incluída em sua rotina.

— Não vou conseguir dormir de jeito nenhum. – neguei com a cabeça desesperada para que ele não demonstrasse tanto que estava indo embora.

— Posso te ajudar a dormir se me permitir. – sua mão veio em direção ao meu rosto, mas segurei seu punho para impedi-lo com sutileza.

— Não tem nada que possa me dizer agora?

— Só posso admitir que, apesar de tudo, receio o que poderá resultar do nosso contato. – não entendi completamente o que ele quis dizer, mas decidi não questionar mais o amável ser místico em minha frente. Eu teria aula amanhã.

Não tendo nada a perder, confiando nele apenas porque parecia certo, o deixei se aproximar e tocar meu rosto, meus olhos lutaram com duas piscadas sonolentas para se manterem abertos. Ao falharem nisso, fecharam e perdi a consciência para um estado de graça.