Capítulo Vinte e Quatro

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Quando saímos do estúdio de Mathias, Álvaro não parava de encara o plástico ao redor do seu braço. Estava encantado pela fênix que estava desenhada ali. Eu queria estar perto do Scooby, assim poderíamos ir para lá ou nos esconder naquele beco para beijar. Eu não podia o beijar na rua do centro. Mesmo à noite ainda havia muita gente saindo e entrando em lojas, carros por aí e crianças brincando. Há dois anos uma onda de assaltos e arrombamentos ocorreram em Armontês. Ninguém soube exatamente como começou ou quando terminou, simplesmente havia pessoas assaltando e machucando as outras e depois, podemos fofocar na rua de novo.

— É linda, não é? — Perguntou ele pela quinta vez.

— Muito. Vamos?

Finalmente seus olhos encontram os meus e não o desenho no braço.

— Ainda falta fazer mais uma coisa.

— Álvaro, eu tenho apenas oito reais no bolso e você deve ter uns vinte. O que a gente pode fazer com vinte e oito reais, à noite, em Armontês?

— Podemos ir ali — seu dedo aponta para trás do meu ombro.

Evito pensar que ele fez isso para mostrar a tatuagem. Ele geralmente aponta para as coisas com um maneio de cabeça.

Do outro lado da rua há uma lojinha de suvenir.

— O que você quer comprar ali?

— Só entrando para descobrir. Vamos. — Ele segurou meu ombro.

Era um dos locais permitidos na rua.

Homens poderiam tocar nos ombros um do outro, aperto de mão, abraços ligeiros. Dois beijinhos em Paris. É difícil aceitar que não posso segurar na mão dele para ir a uma porcaria de loja pelo medo que tenho — que me fazem ter.

Me pergunto o que Mauricio faria.

Entramos na loja. Tinha cheiro de cerraria e coisas velhas. Velas, papel e poeira. O cheiro de caixas antigas e perfumes de idosos.

Uma mulher com traços asiáticos fortes estava do outro lado do balcão. Ela sorriu para nós e perguntou:

— Ajuda?

— Só olhando — eu respondo já que a porra do meu namorado me deixou plantado aqui e correu por entre os corredores da loja.

A moça sorri para mim com simpatia.

Avanço. O rosto dela me faz lembrar massa de bolo prestes a assar.

Encontro Álvaro olhando para uma prateleira com porta-retratos vazios. Tem decorações da Torre Eiffel, uma com flores e outras mais. eu não prestei atenção nelas, prestei atenção no que ele segurava nas mãos.

Parecia ser um pote.

— Para que isso?

— Para você. Escolhe uma coisa para mim no outro corredor.

— O outro corredor só tem chaveiros... Sério?

Seu silêncio, sua concentração falsa, seus olhos focados nos porta-retratos idiotas foram a confirmação que sim, ele estava falando sério e sim, ele é idiota assim.

Exasperado, faço o que ele quer.

Eu não queria brigar com ele.

Eu não queria, na verdade, que desperdiçássemos nosso tempo aqui, quando poderíamos estar em qualquer outro lugar, fazendo qualquer outra coisa.

O outro corredor estava sim, cheios de chaveiros em ganchos e todos mostrando países diferentes.

Eu estava morrendo de calor e queria ir embora, mas tive que encontrar algo que chamasse minha atenção e que valesse a metade do dinheiro que tenho no bolso.

Maiores Que Muita Coisa (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora