Na hora de jantar acabei iniciando essa discussão com meu pai. Ele não gostou tanto assim e pediu que eu ficasse calado sobre isso. Elisa não interferiu. Nando se divertiu.
Comi em silêncio.
Naquela noite, eu não quis que minha raiva interferisse na minha história, por isso não escrevi, porque não queria transformar o meu livro em algo tão amargo quanto eu estou agora. Botei os fones de ouvido e fiquei no meu quarto até o sono chegar, até eu perceber que Álvaro não me mandaria nem uma mensagem. Eu dormi, mas fiquei desconfortável o tempo inteiro dentro da minha cabeça.
Na sexta-feira ele apareceu no celeiro às 15h.
O cumprimentei apenas com um abraço rápido. O celeiro não era grande, tampouco bonito e confiável; paredes de madeira igual ao teto, a única coisa que impedia a chuva de entrar eram as telhas e mesmo assim não serviam tanto pelas goteiras. E tinha palha jogada por todo lado, a ideia do meu pai de criar alguma coisa aqui se foi assim que ele percebeu que nem mesmo um animal queria ficar aqui. Fechei o portão de madeira, o que era o máximo de privacidade que teríamos.
Eu não me importava. O coloquei contra a primeira parede que vi e o beijei, o agarrei até tirar sua camisa e sentir sua pele, até que eu pudesse lamber e morder seu pescoço.
— Achei que iriamos com calma — arfou.
— E vamos — concordo. Acrescento com um sorriso malicioso —, mas ir devagar não precisar ser quase parando, tecnicamente. Posso lamber e morder você.
Seu sorriso em resposta disse que eu deveria fazer exatamente isso. Geralmente não mordo seu pescoço, não deixo marcas ali, por isso preciso da camisa dele longe para que eu possa aproveitar qualquer parte que meus dentes possam querer do seu tronco. Dos seus braços, das suas costas. Eu o beijava e quando ele arfava com minha língua, eu o mordia devagar até ele dizer que poderia ir mais forte, se eu quisesse. E eu sempre queria.
Justamente quando eu estava quase abrindo seu zíper — eu havia gostado de provocá-lo por cima da cueca —, eu escutei a voz do meu pai do lado de fora.
— Droga, pai — murmurei.
— Interrompidos pela... sexta vez na semana. Estamos péssimos.
Concordei com ele.
Deixei que fechasse seu zíper para eu poder dizer ao meu pai que estava no celeiro. Dei um caderno para Álvaro. Um pequeno disfarce de que estávamos estudando. Ele se sentou em um banco de madeira que tinha no canto e relaxou a expressão e o corpo, parecia totalmente à vontade. Meu pai o encontrou com aquela expressão e pareceu não suspeitar de nada. Ele era a porra de um bom ator e um grande puxa-saco, porque cumprimentou meu pai com um aperto de mão e depois, uma piada sobre eu ser extremamente difícil de lidar neste trabalho de escola.
Meu pai não discordou dele, claro.
— Pai? Estava me procurando?
— Ah, sim. Eu só... — outra voz o chamou, dentro da nossa casa. — Estou aqui! Arnaldo!
O amigo do meu pai apareceu. Ele me lembrava dele, assim como me lembrava da maioria das pessoas que morava em Armontês. Arnaldo me ajudou uma vez quando eu era pequeno e escorreguei em frente à sua casa porque a calçada estava molhada pela chuva do dia anterior. Não foi uma queda feia, mas ele me ajudou mesmo assim e comecei a gostar dele por isso. Ele veio aqui uma ou duas vezes depois disso, para conversar sobre futebol com meu pai e para um dos meus aniversários. Acho que o de doze anos.
— Thales! Minha nossa, você cresceu.
— Pois é — digo e me sinto constrangido por não saber como reagir. E nem como reagir por Álvaro estar presenciando isso.
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Maiores Que Muita Coisa (Romance Gay)
Roman d'amourThales parou de escrever depois que seu meio-irmão estragou esse sonho. Entretanto, ele decide tentar mais uma vez em um concurso de escrita na escola, com a ideia, porém, de estar sob um pseudônimo. A escrita se torna apenas mais um de seus segredo...