Quando Bia abriu a porta seus olhos arregalaram.
— Que merda!
Entrei antes que ela pudesse dizer que eu podia.
— O que aconteceu com você? Pai!
O pai dela apareceu na sala enxugando as mãos em um pano de prato. Ele também arregalou os olhos quando me viu. Então percebi que eu deveria estar mesmo péssimo. Mais do que pensei.
— Senta-se aí. — Fui colocado no sofá e abri a boca para agradecer.
E percebi que não conseguia falar.
Minha garganta estava dolorida. Era como se ele tivesse ficado com o joelho pressionado aqui durante horas e não poucos minutos. Poucos minutos foram o bastante para que deixasse queimando e doendo. O pai dela apareceu com um enorme copo de alumínio com água gelada. Meus dedos estavam dormentes quando o toquei e meus lábios rachados, minha garganta dolorida agradece. Bebo tudo e quase engasgo. Engolir dói.
Devolvo o copo a ele e agradeço da melhor forma que consigo.
— O que aconteceu, Thales?
Júnior é um cara legal, ele já me ajudou muitas vezes. Me deu aulas de reforço quando eu era pequeno quando minha mãe pediu e nunca proibiu que Bia ou Lino se afastassem de mim quando a verdade da minha família explodiu. Ele continuou bom, é mais do que eu posso dizer sobre a maioria das pessoas.
Abro a boca e procuro as palavras certas. Só que não consigo, porque quero desesperadamente chorar e preciso do colo de alguém, porque sou exatamente assim; uma hora eu sei, eu quero e eu tento aguentar tudo, enterro, enterro e enterro bem. Até que tudo cria raízes e me sufoca e é aí que preciso da ajuda de alguém porque neste nível já não posso fazer nada sozinho.
Choro.
As palavras de Nando bombardeando minha cabeça. Choro e recebo um abraço de Bia e o pai dele põe a mão no meu joelho. Um mínimo sinal de conforto, mas que já valia. Meu pai só perguntaria qual era o meu problema e tentaria achar uma solução na sua mente empresária e computadorizada de frases horríveis e piadas ruins. Eu não queria uma solução, caramba, eu queria chorar porque via que só ia conseguir depois de chorar um bocado.
Fiquei ali, no sofá deles até conseguir falar de novo, o que demorou mais do que pensei.
Contei tudo. Não deixei de contar que Nando tinha bebido e que eu provoquei. Contei que estava pensando que ele ia me matar naquela hora.
— Quer que eu ligue para sua mãe? — Júnior perguntou. Eu neguei com a cabeça, o que só fez piorar o latejar que eu sentia desde que caí. Além do latejar sinto dor até para pensar.
— O que você quer?
Sorri para ele.
Um adulto perguntando o que eu queria.
— Dormir — digo —, e amanhã, resolver tudo.
A merda já devia ter sido jogada no ventilador. Senti meu celular vibrando no bolso segundos atrás e sei que é o meu pai, ou Elisa, ou minha mãe. Eles querem saber onde estou e possivelmente, saber se estou bem. mas não diria nada, eu me negava a pegar o celular e dar qualquer satisfação a eles. Que se lasquem, eu estou com dor e quero ficar longe deles. Longe de Nando e daquela casa.
— Vou arrumar um canto para você aqui na sala, tudo bem?
— Obrigado.
— Lino deve vir logo aqui, ele não para até às oito.
Olho para o relógio com a imagem de Jesus pendurado na parede deles. Achei que fosse mais tarde.
— Certo — é tudo o que digo. Depois eles me deixam deitar no sofá, por enquanto. Fico assim até Bia aparecer e pedir ajuda para arrumar o colchão com um lençol.
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Maiores Que Muita Coisa (Romance Gay)
Roman d'amourThales parou de escrever depois que seu meio-irmão estragou esse sonho. Entretanto, ele decide tentar mais uma vez em um concurso de escrita na escola, com a ideia, porém, de estar sob um pseudônimo. A escrita se torna apenas mais um de seus segredo...