Capítulo Oito

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A última música que eu tinha traduzido tinha sido jogada fora. Eu não a queria. Peguei o ônibus para ir à escola, minha mãe disse que podia ligar para o meu pai vir me buscar, mas eu sempre o evito, então disse que ir de ônibus não era problema nenhum. Meu problema maior estava na escola e, por mais que eu me mantenha indiferente, os problemas furam minha bolha. Eu estou tremendo de nervosismo. Chegar à sala de aula foi fácil, difícil foi ver Álvaro agachado perto de Lino, que parecia extremamente desconfortável com aquilo.

Me aproximei depressa, sem ter certeza do que faria. Álvaro se levantou em um pulo e o olhar de alívio na cara do meu amigo me fez prender o fôlego por um momento.

— O que você quer com ele?

Eu não sabia onde Bia estava.

— Eu estava só conversando.

— Só conversando? — Direcionei a pergunta ao meu amigo, que assentiu, e depois disse que queria ir ao banheiro.

Ele saiu.

Queria que só com o poder do meu olhar Álvaro se desintegrasse na minha frente. Ou que pegasse fogo diretamente no pau.

— Não gosto de você perto dele — digo —, por N motivos.

Ele ficou calado.

Eu conseguia perceber que ele estava tentando, mas sinceramente, estou pouco me fodendo para isso, suas tentativas. Não vou perdoar ele pelo que fez comigo e não vou deixar que faça com meus amigos. Já não basta que os amigos dele chamando Bia de puta ou Lino de retardado?

— O que você está tentando fazer? Com que eu te desculpe? Está indo pelos meus amigos?

— Achei que funcionaria.

— Não funcionou. Me deixou puto da vida. Você é um...

— Babaca — seu sorriso era desafiador e seus olhos queriam essa brincadeira. Os alunos ao redor estavam prontos para uma possível briga —, idiota, sem noção, pode me chamar do que você quiser. Mas eu estou só tentando ser diferente.

— Nesta altura do campeonato? — Meu sarcasmo escorreu antes mesmo que eu o pudesse conter. A voz do meu pai, me lembrando que isso era falta de educação apareceu, e eu o ignorei.

Na verdade, sempre que eu estava de frente para Álvaro, era a voz do meu pai que surgia, me dando conselhos mais do que eu realmente precisava ou queria. Seja amigo dele, meu pai dizia e em rebote eu contrabatia com "nem fodendo".

— Nesta altura do campeonato. Estamos quase saindo do ensino médio. Não tem para quê mais drama assim.

Meus dramas vão me acompanhar até mesmo no meu leito de morte.

Olhei para trás, certo de que algum amigo dele, ou um dos meus amigos apareceria. Nenhum deles surgiu para interromper essa conversa. Achei que eu teria mais tempo antes de lidar com Álvaro, mas aqui estou eu, apenas três horas depois de ter desligado o telefone na sua cara.

— Acho que Lino não deu tanta bola assim para o que eu disse.

Reviro os olhos.

— Lino não vai esquecer isso tão cedo. Ele se lembra de tudo. Ou quase tudo.

— E você também.

— Difícil esquecer das coisas que você fez.

Seus ombros ficaram tensos e seu olhar avaliou o meu rosto. Pareceu, por um segundo, que ele quis me bater. Ou só gritar comigo. Ou ambos. Mas essa vontade sumiu do seu olhar quando risadas estrondosas se aproximavam.

Maiores Que Muita Coisa (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora