Capítulo Dez

121 19 2
                                    

Minha história estava com setecentas visualizações.

Foi a primeira coisa que olhei na terça feira. Fiquei de pé depressa e observei o número com os olhos mais limpos. 700. Meu Deus!

Passei o dia inteiro de bem com tudo e incrivelmente ignorei as olhadas de Álvaro na minha direção durante as aulas e durante o intervalo quando passava por mim, Bia e Lino. Mas não pude evitar que minha mente se lembrasse de ontem, quando andamos e comemos, e sei que ele lembra também porque, quando nossos olhares se encontram, os olhos dele brilham. É insuportável.

Álvaro não sabia, mas, ontem foi um dia incrível. Tirando a parte em que vi seu pai.

***

Quarta-feira. Meu pai se ofereceu para me levar à escola e eu disse que sim.

— Sério? — Elisa perguntou e depois sorriu, envergonhada. Serviu-se uma xicara de café fumegante. — Você geralmente foge do seu pai.

— Eu não fujo — minto.

Meu pai dá um risinho e diz para irmos logo. Ele beija Elisa nos lábios e eu desvio o olhar para não ter que ver isso. Dar beijos de bom dia é algo que ele também fazia com minha mãe.

Entramos no carro e ele abaixou os vidros. Fico quieto e encolhido. Não me esforço para iniciar qualquer assunto, só observo as casas passando, as arvores farfalhando e sumindo, borrões de pessoas e animais. Até que a voz dele também surge e some.

— Como foi ontem?

Ontem. Com Álvaro, claro.

— Legal.

Um sorriso convencido surgiu no seu rosto. Um sorriso que queria dizer, sem sombra de dúvidas, "eu sabia que estava certo". Não liguei tanto, acho que nem se meu pai falasse isso eu iria me importar tanto. Acho que estou animado demais com as coisas que ando escrevendo que criei uma barreira onde muita coisa não me afeta e não sei quanto tempo isso vai durar, por isso aproveito e deixo que suba à cabeça.

Dei respostas vagas quando ele pediu. Saímos. Andamos. Só isso, pai.

— Pode parar aqui? — Pergunto.

— Por quê? Estamos perto da escola já.

Aponto. Andando não muito longe do carro, Bia e Lino. Meu pai olha para eles com desgosto.

— Acho melhor...

— Por favor — apelo.

Ele revira os olhos — puxei isso dele, aliás — e destrava as portas. Agradeço e desço não querendo que ele pense melhor ou queria me dar um conselho. Ando depressa. Chamo por eles. Os alcanço rapidamente. O carro do meu pai passa por nós e depois some quando ele vira à esquerda.

— Vamos jogar videogame hoje? — Bia pergunta animada e sorridente.

Ela está usando o meu casaco vermelho na cintura hoje.

— Hoje não. Tenho que fazer algumas coisas em casa. E eu nem terminei o trabalho de química.

— Estava fácil de resolver — Lino diz.

Atravessamos a rua.

— Fácil falar, você é bom em química. Eu odeio química — resmungo.

Entramos na escola e paramos perto dos bebedouros. Bia segura o cabelo enquanto bebe água sem encostar os lábios no metal.

— Thales.

Viro-me.

Mauro.

— Oi — ele se aproxima e acabamos dando um abraço. Não sabia o que ia acontecer até ter acontecido. Bia o avalia. — Essa é Bianca e esse é Lincoln.

Maiores Que Muita Coisa (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora